Título: Lula afirma que Brasil tem energia garantida até 2012
Autor: Rittner, Daniel
Fonte: Valor Econômico, 08/11/2007, Brasil, p. A4

Em coro, o governo aproveitou uma solenidade da indústria do petróleo, no Palácio do Planalto, para assegurar que o país não sofrerá um apagão energético nos próximos anos e não verá o crescimento econômico afetado pelo desabastecimento de gás. A mensagem mais enfática foi dada pelo próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que desdenhou daqueles que apontam o risco de racionamento no setor elétrico.

"Não vai ter crise energética", garantiu Lula, que convocou ministros para participar hoje de uma reunião do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE). O presidente atacou quem, segundo ele, especula que "acabou a energia do mundo" só porque "aconteceu um probleminha de gás no Rio". "Este país já tem energia garantida até 2012. No mês que vem tem o leilão do rio Madeira. E nós vamos descobrir os gases que precisamos descobrir ou vamos comprar o gás que precisar comprar."

Um dia após reuniões com a cúpula do governo boliviano, em La Paz, o presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, confirmou que a estatal retomará os investimentos na Bolívia, embora não tenha dado detalhes sobre valor ou prazo. Ele ressaltou que "o crescimento do país não será afetado pela falta de gás" e elevou o tom das críticas às distribuidoras estaduais.

Segundo ele, a Petrobras investirá US$ 18 bilhões na expansão da produção de gás até 2010, com mais 4.600 quilômetros de gasodutos e aumento da capacidade de suprimento para 144 milhões de metros cúbicos por dia em 2012 - 73 milhões oriundos de produção nacional, outros 30 milhões de gás boliviano e mais 30 milhões provenientes de gás natural liqüefeito.

Apesar de ter dito no primeiro semestre que a Petrobras não investiria "nem mais um tostão" na Bolívia, Gabrielli definiu sua visita ao país vizinho como "uma nova etapa no relacionamento" e elogiou a "estabilidade legal" do governo Evo Morales. E rebateu as críticas de que a retomada dos investimentos na Bolívia representam riscos para a Petrobras: "O risco é inerente à indústria do petróleo".

Gabrielli disse que a estatal brasileira estuda investimentos em novos campos de exploração do gás boliviano, além de desembolsos para manter a produção atual. Mas descartou a ampliação do gasoduto Brasil-Bolívia. O executivo procurou dar explicações técnicas para justificar os novos investimentos. Segundo ele, todo campo de gás atinge um pico de produção e depois tem um declínio forte, o que requer tratamentos para manter a potência das jazidas.

"Ou você aumenta a produtividade ou descobre novos campos, só assim mantém a produção. É isso o que estamos fazendo", disse Gabrielli. As equipes técnicas da Petrobras e da YPFB se reunirão novamente entre os dias 26 e 30 e poderão definir os novos investimentos em exploração de gás. "Se na atividade exploratória nós tivermos sucesso e a capacidade de produção for maior do que a necessidade brasileira, é evidente que a produção ocorrerá."

O ministro de Minas e Energia, Nelson Hubner, desaconselhou novas conversões de carros para o uso de gás natural veicular (GNV). Segundo ele, Lula pediu para que seja garantido o gás para quem já fez a adaptação, mas ressaltou que o governo estuda políticas para desestimular a expansão do uso de gás em veículos. "O que não dá é para a gente abandonar essas pessoas que de boa fé fizeram todo este investimento, elas vão continuar tendo gás, até porque as distribuidoras têm um contrato com a Petrobras. As distribuidoras têm que compatibilizar o que está contratado com o que estão vendendo."

Gabrielli endossou os comentários do ministro e frisou que o uso do gás natural em veículos "não é o melhor". Questionado se a Petrobras não foi leniente ao fornecer gás para quem não tinha contrato, e depois cortar subitamente o abastecimento, Gabrielli criticou a CEG e disse que o corte aos postos de combustíveis, gerando protestos de taxistas, foi uma "decisão política". "Ela tinha alternativa de cortar de outros lados", provocou. "A Petrobras entregou gás na medida em que havia disponibilidade. Mas as distribuidoras estavam conscientes de que, se houvesse necessidade, o gás seria reduzido porque há prioridades gerais definidas por contratos."