Título: Empresários mobilizam-se por voto distrital
Autor: Jurgenfeld, Vanessa
Fonte: Valor Econômico, 08/11/2007, Politica, p. A8

Depois do Cansei, um novo movimento começa a tomar corpo junto à classe empresarial do país. Encabeçada pela Confederação das Associações Comerciais e Empresariais do Brasil (CACB), a nova bandeira que vem sendo proposta é a defesa do voto distrital. Ontem, em Florianópolis, entre os temas do 17º Congresso Brasileiro CACB, encontro com representantes das federações de associações comerciais de todo o país, este era um dos assuntos em pauta. A intenção é mobilizar as associações comerciais e industriais, que estão mais próximas a pequenos e médios comerciantes, a levantar essa bandeira a partir da base, e conseguir a mudança antes das eleições de 2010.

Alencar Burti, presidente da CACB, tem priorizado o assunto. Diz que quando o voto é muito pulverizado, o eleitor perde o contato com o eleito. "O voto distrital é a única maneira que nós vemos de o deputado ter que olhar no olho do seu eleitor", diz. "Eles (os deputados) vão saber que estão lá a serviço da sociedade e não o inverso. No voto distrital é que começa a reforma política porque por meio dele você faz pressão", acrescenta.

A discussão sobre voto distrital iniciou com mais força em São Paulo, onde já houve em agosto um seminário sobre o assunto, e agora deverá ser disseminada pelas federações. Burti defende o novo sistema, começando na mudança das eleições para deputados federais, e depois uma extensão para estaduais e vereadores. Em cidades grandes como São Paulo, o voto distrital faria sentido, segundo ele, até mesmo para a câmara de vereadores, já que os bairros são já verdadeiras cidades.

O voto distrital seria, em linhas gerais, a eleição de candidatos por distrito. Teria que ser definido qual seria o tamanho de um distrito. O eleito representaria este distrito, criando um vínculo maior junto aqueles que o elegeram, podendo haver maior cobrança das suas ações. Entre os que criticam o voto distrital, destaca-se que esses políticos poderiam acabar fazendo representações locais e não mais discutiriam questões de interesse nacional.

Os empresários reunidos em Florianópolis dizem que muitos dos interesses locais já são nacionais e não haveria este choque. Defendem o sistema, sobretudo, pelo seu caráter fiscalizador. "Temos hoje na cultura de todo o processo eleitoral, candidato de uma região pegando votos em todas as regiões, perdendo assim a proximidade e identidade com aqueles que o elegeram. O voto distrital vai permitir que a representatividade do eleitor seja assegurada", diz o presidente da Facisc, Luiz Carlos Furtado Neves.

O movimento chega ao mesmo tempo em que os empresários dizem não se ver representados pelos políticos que estão no Congresso. "Hoje quem tem a representatividade no Congresso são os grupos empresariais que são maiores que países. Esses tem um poder de pressão enorme. É preciso democratizar também o poder de pressão. A globalização deu poder a grandes organizações corporativas. A classe média empresarial, que é 95% da atividade, não é ouvida porque os outros 5% representam 50% do PIB", destaca Burti.

O movimento pelo voto distrital, segundo os empresários, é apartidário, embora já seja apoiado por figuras políticas conhecidas como Guilherme Afif Domingos (DEM) e Fernando Henrique Cardoso (PSDB). José Carioli, presidente da Federasul, diz que não se trata de um movimento só dos empresários, mas da sociedade. Ele entende o voto distrital como a forma democrática mais segura e com resultado mais eficaz. "Hoje o PSDB está dando a entender que poderá apoiar a CPMF porque daqui a três anos espera que o presidente será um do PSDB. É uma loucura pensarmos no país dessa forma. O político precisa ser cobrado mais de perto".