Título: Esso pode sair da América Latina, diz diretor da Petrobras
Autor: Santos, Chico ; chüffner, Claudia
Fonte: Valor Econômico, 25/09/2007, Brasil, p. A5

O diretor da Área Internacional da Petrobras, Nestor Cerveró, disse ontem, durante a posse de José Eduardo Dutra na presidência da BR Distribuidora, que a gigante americana ExxonMobil está deixando a maior parte da América do Sul, vendendo ativos de distribuição e refino de combustíveis não apenas na Argentina, como já foi noticiado, mas também no Brasil, Chile, Uruguai e Paraguai. Aqui, a Esso Brasileira de Petróleo, subsidiária da ExxonMobil, atua desde 1912, detém pouco menos de 9% do mercado de distribuição, mas tem enfrentado muitos prejuízos.

Cerveró fez a revelação, mas negou que a Petrobras tenha interesse em comprar os ativos da Esso, mesmo na Argentina, como já foi noticiado. Para reforçar a negativa, Cerveró repetiu diversas vezes a mesma frase: "Nem mandamos proposta (pela filial argentina)."

O diretor de suprimento e distribuição da Esso no Brasil, Leonardo Gadotti, também presente à posse de Dutra, disse que não tem conhecimento do assunto. O mutismo a respeito das possíveis negociações se estende aos assessores da filial brasileira da Exxon. O presidente da Esso, Carlos Piotrowski, não estava ontem no Rio, sede da empresa. O Valor entrou em contato com a assessoria de imprensa da empresa em Houston, no Texas, mas até o fechamento da edição não havia recebido uma resposta sobre a venda dos ativos.

A notícia de uma possível venda dos ativos no Brasil não chega a surpreender quem acompanha o dia-a-dia da Esso no Brasil. Prejuízos no país provocaram, em 1997, uma troca de farpas entre o presidente da ExxonMobil na época, Richard Dobson, e o então diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo (ANP), David Zylbersztajn, porque a recém-nascida agência havia adiado a abertura do mercado brasileiro de petróleo por alguns meses. Na distribuição, as maiores queixas da empresa americana são a adulteração de combustíveis e clonagem de postos.

Nos últimos anos, a Esso vem tomando sucessivas decisões que revelam progressivo afastamento do mercado brasileiro. Podem ser entendidas assim a venda dos 30% que detinha no promissor bloco BC-10 de exploração de petróleo (Bacia de Campos) para a indiana ONGC, em abril de 2006, e também a desmobilização dos últimos 27 postos próprios que detinha, em outubro de 2005. Mesmo assim, a Esso tem cerca de 1.800 postos no país, e vende cerca de 6 bilhões de litros por ano. A empresa possui 43 armazéns e terminais de combustíveis, uma fábrica de lubrificantes e uma de produtos químicos. Emprega diretamente 2 mil pessoas e mais 10 mil são empregados na rede de revendedores e lojas de conveniência.

O presidente da Shell Brasil, Vasco Dias, determinou que sua empresa avalie os ativos da Esso na Argentina. Os estudos iniciais, segundo o Valor apurou, apontaram para um preço de aproximadamente US$ 1 bilhão. Na Argentina, a Esso tem 12% do mercado de combustíveis formado por uma rede de distribuição com 500 postos considerados "muito bem feitos, bem mantidos e bem localizados" e uma excelente refinaria. Como uma aquisição desse porte precisa ter aprovação da matriz, o assunto ainda é embrionário, não passando de uma intenção de análise.

Se comprasse os ativos da Esso na Argentina, a Petrobras aumentaria a participação no negócio de distribuição e refino naquele país, , "colando" na Repsol YPF. Na visão de uma fonte do setor, a compra levaria a Petrobras para a posição de conforto a qual ela está acostumada, que é a de ter domínio absoluto do mercado. "Isso é o que ela faz muito bem aqui no Brasil", avalia. Por esse raciocínio, a Petrobras também aumentaria sua capacidade de refino na Argentina.