Título: Companhia usou dinheiro para reorganizar finanças
Autor: Romero, Cristiano
Fonte: Valor Econômico, 08/11/2007, Empresas, p. B3

A decisão da BRA de suspender seus vôos levantou dúvidas acerca do destino que foi dado ao aporte milionário que ela recebeu dos fundos internacionais. Segundo o Valor apurou, o dinheiro serviu, principalmente, para reorganizar as finanças da companhia, conforme estabelecido no contrato entre todos os acionistas.

Inicialmente, os fundos que participam do investimento - Darby, HBK, Millenium, Development Capital, Goldman Sachs, Gávea e Bank of America - aplicariam R$ 180 milhões na BRA, em três parcelas. Mas uma delas, no valor de R$ 27 milhões, deveria ser paga somente em dezembro deste ano. Uma fonte ligada à companhia afirma que a parcela não foi concretizada. Por causa disso, os fundos teriam 41,3% do capital total da empresa, e não 45,9%, como foi anunciado na ocasião de fechamento do negócio, em dezembro de 2006. No entanto, Danilo Amaral, atual vice-presidente de relações institucionais da BRA, confirmou na segunda-feira que o valor investido era de R$ 180 milhões.

Os cerca de R$ 150 milhões investidos, portanto, foram direcionados a três frentes, conforme previsto em contrato: quitação de dívidas financeiras, dívidas tributárias e capital de giro. O dinheiro não foi usado para fazer a empresa ganhar participação de mercado. O crescimento estava previsto para a segunda etapa do plano de negócios, que incluía a compra de pelo menos 20 jatos da Embraer com dinheiro do BNDES. O contrato da BRA com a fabricante de jatos foi fechado em agosto deste ano.

Segundo fonte que esteve a par de todo o processo, desde o ano passado, os fundos deixaram a empresa livre de passivos. Mas, em menos de um ano, a BRA acumulou novamente dívidas entre US$ 90 milhões e US$ 100 milhões, uma vez que a operação aérea era deficitária. O prejuízo mensal variava ficava entre R$ 10 milhões e R$ 15 milhões.

O problema, segundo a fonte, não eram os custos operacionais. Ao contrário, eles seriam bem controlados, em linha com a fama do fundador da BRA, Humberto Folegatti, que no passado já se auto-declarou um "pão-duro".

O principal motivo das perdas seria a receita comprimida da BRA, uma vez que ela cobrava tarifas entre 15% e 20% mais baixas do que os bilhetes mais baratos de suas concorrentes - principalmente Gol, TAM e Varig. A política de preços baixos seria uma diretriz de Folegatti e de seu irmão Walter, responsável pela área comercial da BRA, que ninguém na companhia conseguiu mudar.

Os resultados financeiros acirraram os conflitos de relacionamento que já existiam entre os acionistas da BRA. Além disso, geraram descontentamento entre os executivos da empresa. Entre agosto e outubro, três diretores da companhia pediram demissão: Waldomiro Ferreira, responsável pelo planejamento e operações; Marcos Guedes, da área de finanças, e Evaristo Silva, da área técnica. A contratação de Amaral, por parte da BRA, também teria causado mal-estar, uma vez que antes ele atuava como advogado dos fundos.

Ontem, Amaral disse ao Valor que a BRA tenta negociar um novo aporte de US$ 30 milhões com os fundos para retomar os vôos. No mercado, avalia-se que as chances de sucesso são pequenas. O executivo afirmou que a BRA decidiu parou de voar para evitar "queimar dinheiro".