Título: Acordo com fundos previa mudanças na gestão da BRA
Autor: Romero, Cristiano
Fonte: Valor Econômico, 08/11/2007, Empresas, p. B3

Quando adquiriu cerca de 20% do capital da BRA, os sócios da Brazil Air Partners, grupo de investidores que tem participação da Gávea Investimentos, do ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga, definiram que a gestão da companhia aérea seria profissionalizada e que seu fundador, Humberto Folegatti, deixaria o comando da empresa. "Nem uma coisa nem outra aconteceram", desabafou ontem um desses investidores, que, segundo estimativa do mercado, injetaram R$ 180 milhões na BRA em dezembro do ano passado.

Até o início da noite de ontem, sócios do Brazil Air Partners não davam como definitivo o fechamento da empresa. Na semana passada, pressionado pelos investidores, Folegatti finalmente deixou a presidência da empresa, permanecendo, no entanto, como presidente do Conselho de Administração. Desde então, gestores e sócios vinham negociando um aporte de recursos para assegurar a operação da empresa no curto prazo. "O negócio não está encerrado. Torço para não estar. Torcemos para a que situação se restabeleça", disse um investidor, exigindo a condição de anonimato para falar. "Qualquer problema pode ser traduzido por dinheiro. Tudo pode ser resolvido. Depende do tamanho do cheque", ironizou um outro.

Dos sócios-investidores - Gávea e os estrangeiros Darby, Millenium, HBK, Development Capital, Goldman Sachs e Bank of America -, o Gávea Investment Fund 1, da empresa de Armínio Fraga, é a que detém a menor fatia do capital total da BRA - cerca de 3%. Na avaliação de fontes do mercado, se o prejuízo for mesmo realizado, não afetará os demais fundos geridos pela Gávea. "É um fundo de longo prazo, com participação minoritária indireta na BRA", explicou uma fonte. Essas mesmas fontes negam que Armínio tenha sido o coordenador do Brazil Air Partners, uma vez que todos os investidores, com exceção dele, são estrangeiros. Desde o início, o ex-presidente do Banco Central considerou o investimento arriscado, mas válido.

"A idéia foi essa - alto risco, alto retorno. Teve problema de gestão, teve crise aérea e outros fatores que interferiram no resultado desse investimento", disse uma fonte próxima de Armínio. "O plano era construir uma companhia com um conceito novo. Eram idéias bem interessantes. A companhia planejava crescer em cima das deficiências do duopólio TAM-Gol, que concentrou suas operações em hubs, o que exige uma certa escala e uma operação logística diferente."

Especialista em aviação civil, o consultor Paulo Bittencourt Sampaio acha que a BRA chegou ao fim da linha. "Eles não tinham mais capital de giro para pagar combustível, taxas aeroportuárias, então, essa história de dizer que a companhia vai voltar a voar é, na minha opinião, completamente furada", disse. Na avaliação do consultor, a essa altura os investidores já realizaram o prejuízo. "Fiquei espantado não com a paralisação da BRA, mas com a entrada desses sócios em dezembro do ano passado. O Armínio é um homem de responsabilidade, bem conceituado internacionalmente e que, no entanto, entrou na companhia depois de uma análise muito superficial", criticou.

Para o consultor, quem conhecesse minimamente o "polêmico" Folegatti saberia que uma parceria com ele estava fadada ao fracasso. "Bastava tomar informações pessoais sobre ele já seria suficiente para não se colocar dinheiro na BRA. Na aviação, ninguém entendeu isso (o investimento de Armínio e dos outros investidores). Aconteceu o que se esperava: Folegatti não saiu da presidência e torrou até o último centavo o investimento, até que a companhia parou", assinalou.

Segundo o consultor, não foi a crise aérea que derrubou a BRA, mas a "incompetência" de Folegatti. "Além de polêmico, Folegatti era um péssimo administrador. Nunca houve respeito ao passageiro. Nos vôos regulares, ele cancelava vôos se a taxa de ocupação não fosse satisfatória. Cancelava também vôos com elevada taxa de ocupação que prejudicasse os fretamentos. A taxa de ocupação da BRA era a maior de todas as companhias, mas eles foram afetados por problemas internos de administração. O dinheiro dos investidores foi suficiente para estender a vida da BRA por nove meses. E só."