Título: João Lyra atrasa pagamento de terras arrendadas para cana em Minas
Autor: Scaramuzzo, Mônica
Fonte: Valor Econômico, 25/09/2007, Política, p. A8

Arrendadores de terra para plantio de cana das regiões de Ituiutaba e Capinópolis, no Triângulo Mineiro, estão com dificuldades para receber o aluguel de suas propriedades. Eles têm um acordo de longo prazo de arrendamento com o grupo alagoano João Lyra, controlado pela família do ex-senador João Lyra (PTB). Atualmente, o ex-senador João Lyra é um dos alvos da atual crise política envolvendo o presidente do Senado, Renan Calheiros. João Lyra acusou Calheiros de usar "laranjas" para comprar estações de rádio e um jornal em Alagoas. O ex-parlamentar move também um processo em que questiona o resultado eleitoral de 2006, alegando fraudes no processo de voto eletrônico. Sua filha, Lourdes Lyra, é vice-prefeita de Maceió.

O Valor conversou ontem com os representantes dos sindicatos de Produtores Rurais de Capinópolis e de Ituiutaba, que confirmaram que esses arrendadores estão há alguns meses sem receber pelo valor da terra. O atraso no pagamento estaria ocorrendo desde outubro do ano passado. Os produtores de cana e prestadores de serviços gerais também estariam sem receber, segundo fontes de mercado.

"Vamos tentar negociar com a usina esta semana", afirmou Paulo Henrique Fontoura, presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Capinópolis. Romes Bastos, presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Ituiutaba, também confirmou o atraso nos pagamentos dos arrendamentos e disse que também vai procurar o grupo para negociar um acordo entre as partes.

O Grupo João Lyra é um dos maiores produtores sucroalcooleiros do Nordeste e do país. Em Alagoas, a família controla três usinas, que juntas processam 3,5 milhões de toneladas de cana. Em Minas Gerais, são duas usinas em operação - a Triálcool, em Canápolis, e a Vale do Paranaíba, em Capinópolis. As duas usinas ficam a uma distância de cerca de 50 quilômetros uma da outra.

Procurado, o porta-voz do Grupo João Lyra, Washington Miranda, afirmou que as usinas citadas estão passando por uma "deficiência transitória", por conta dos baixos preços do açúcar e do álcool nesta safra, a 2007/08, mas que esse problema já está sendo resolvido.

Fontes de mercado afirmaram ao Valor que as dificuldades do grupo começaram no ano passado, quando o ex-senador estava concentrando esforços para sua candidatura a governo do Estado de Alagoas. Contudo, o grupo não vincula a candidatura de João Lyra aos problemas financeiros atuais nas usinas. Havia especulações no mercado de que por conta dessa dificuldade, o ex-senador estaria colocando as duas usinas de Minas à venda. Mas o grupo também negou a informação e acrescentou que estuda a construção de uma terceira unidade produtora no Triângulo Mineiro.

Com um faturamento da ordem de R$ 650 milhões (referente às cinco usinas), o Grupo João Lyra foi um dos primeiros a apostar na cana em Minas Gerais no início da década de 90. Com a topografia acidentada, os canaviais de Alagoas - e do Nordeste em geral - têm pouco espaço para a expansão. No fim da década de 80, o grupo alagoano comprou a usina Triálcool, que pertencia a pecuaristas locais. Na safra 2001/02, inaugurou sua segunda unidade na região. A ida dos grupos nordestinos para Minas Gerais foi o caminho natural da maioria dos empresários da região, uma vez que as terras mineiras eram mais baratas que as de São Paulo. (Colaborou César Felício, de São Paulo)