Título: Grupo chileno estuda trazer outros negócios ao mercado brasileiro
Autor: Facchini, Claudia
Fonte: Valor Econômico, 08/11/2007, Empresas, p. B4

Divulgação Time vencedor: Carlos Mechetti (gerente), Paulmann (fundador), Golborne (CEO), e Matias Videla (gerente) do Cencosud Horst Paulmann, fundador e principal acionista da Cencosud, saudou os jornalistas em português durante a teleconferência realizada ontem, na qual anunciou a compra da rede sergipana GBarbosa, a segunda maior cadeia de supermercados do Nordeste. O esforço mostra que o Brasil, em especial a região Nordeste, é agora uma prioridade para o segundo maior grupo de varejo chileno, que venceu a disputa pelo GBarbosa, sua porta de entrada no mercado brasileiro.

Em um lance digno dos gramados, os chilenos conseguiram desbancar um concorrente muito maior e mais poderoso do que eles - o Carrefour -, que também fez uma oferta agressiva pela rede nordestina.

Paulmann diz não temer seus concorrentes. Atualmente, a Cencosud é uma das poucas empresas de varejo latino-americanas que estão se internacionalizando na região, conseguindo ficar ao lado das grandes multinacionais. A americana Wal-Mart e os franceses Carrefour e Casino elegeram a América Latina como um mercado estratégico no mundo e decidiram assumir a liderança em vários países da região, como o Brasil, México e Colômbia. Segundo fontes do setor, a rede Wong, maior varejista do Peru, é a "bola da vez" na região.

Mas a Cencosud não é exatamente igual a seus concorrentes do primeiro mundo. O grupo chileno, cujo faturamento deve atingir US$ 7 bilhões em 2006, é mais diversificado, mantendo um modelo de negócio que chegou a ser execrado nos anos 80 e 90, quando o "core business" virou moda no meio empresarial.

Além de possuir 37 hipermercados e 357 supermercados, o grupo chileno também opera 52 home centers (lojas de material de construção), 21 shopping centers, 25 magazines, e comercializa vários serviços financeiros no Chile e na Argentina.

"Existe, sim, potencial para outros negócios no Brasil", afirmou Horst Paulmann, ao ser perguntado se pretendia entrar em outros segmentos no mercado brasileiro, como o varejo de material de construção. Mas o executivo ainda está analisando as oportunidades. Segundo ele, o grupo deve concentrar suas atenções neste momento no GBarbosa, mas está sempre aberto a futuras aquisições. "O GBarbosa possui, em especial, uma parceria com o Bradesco muito interessante (para o Cencosud)", disse Paulmann, que hoje ocupa a presidência do conselho do grupo.

Desde que vendeu ações na Bolsa de Valores de Santiago, em 2004, a Cencosud engordou o caixa e vem realizando uma série de aquisições. A lista de compras inclui as redes Disco, que pertencia ao Ahold, e a cadeia de material de construção Blasiten, ambas na Argentina, além da rede de supermercados Santa Isabel, no Chile. Na Colômbia, o grupo formou uma joint venture com o Casino para criar uma rede de home centers.

Perguntado se haveria um conflito de interesses com o Casino no mercado brasileiro, Laurence Golborne, principal executivo da Cencosud, afastou a possibilidade. No Brasil, o Casino detém 50% do Grupo Pão de Açúcar. "Mesmo na Colômbia, onde o Casino atua em supermercados, não estamos impedidos de competir neste segmento. A parceria está restrita aos home centers", disse Golborne.

O modelo diversificado do Cencosud, ao que tudo indica, deu certo. As margens de lucro do grupo chileno são melhores que as obtidas, de forma geral, pelas redes de supermercados brasileiras. "Não dá para extrapolar os nossos resultados porque nós possuímos outros negócios, como imóveis e shopping, onde as margens são mais altas", explica Paulmann, que acredita que esta integração é uma boa fórmula para atuar no varejo.

No segundo trimestre deste ano, o grupo registrou uma margem bruta de 30,9% e uma margem de 9% no lajida ( lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização). Os números deixam qualquer concorrente no Brasil com água na boca. O Grupo Pão de Açúcar teve de baixar os preços nas gôndolas e viu a margem bruta cair de 29,1% para 28,1% neste ano. A margem lajida, por sua vez, encolheu de 7,3% para 6,4%.

O Cencosud, agora, terá de arregaçar as mangas da camisa.