Título: Estatais são destaque no leilão de transmissão
Autor: Santos, Chico; Rosas, Rafael
Fonte: Valor Econômico, 08/11/2007, Empresas, p. B8

As estatais brasileiras do setor foram o destaque do leilão de sete lotes de linhas de transmissão de energia elétrica promovido ontem pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). As empresas espanholas, vencedoras dos leilões anteriores, vieram com menos apetite e ficaram com apenas um lote, o B, arrematado com deságio de 56,86% em relação à receita máxima proposta. Foi o maior deságio da rodada. A vitoriosa foi a Cymi, pagando R$ 13,76 milhões, quando a receita máxima podia chegar a R$ 31,89 milhões. O deságio médio geral foi de 51,26%. Eletronorte, Eletrosul, Chesf e Copel, todas estatais, levaram cinco lotes.

A única empresa privada nacional a vencer um dos leilões foi a Bimetal Indústria e Comércio de Produtos Metalúrgicos, mesmo assim como sócia minoritária (20%) de um consórcio liderado pela Eletronorte (45%) e também integrado pela italiana Terna (35%). O consórcio levou o lote C, aceitando uma receita anual de R$ 14,95 milhões para construir e operar 402 quilômetros de linhas e duas subestações no Mato Grosso. O deságio foi de 53,5% em relação aos R$ 32,15 milhões propostos. O lote maior foi levado pela Companhia de Transmissão de Energia Elétrica Paulista (CTEEP), subsidiária da colombiana ISA, com deságio de 56,6%.

"As estatais comemoraram deságios de mais de 50% como se tivessem ganho alguma coisa. As nacionais (privadas) mais uma vez saíram prejudicadas", disse Célio de Oliveira, da Cel Engenharia, empresa goiana ligada à Fuad Rassi Engenharia e Comércio, que disputou e perdeu as disputas com as estatais. A fala de Oliveira pressupõe que as estatais jogaram os valores a receber muito para baixo.

"O que importa para a Aneel não é se a empresa é nacional, estrangeira, privada ou estatal. Importa o resultado do leilão e, no meu modo de ver, ele representou mais ou menos a média do que verificamos em outros leilões", disse Romeu Donizete Rufino, diretor da Aneel. Para Rufino, a rodada foi "um sucesso", entre outros aspectos, porque todos os lotes foram leiloados, houve vários vencedores e de diversas nacionalidades.

Ele considerou "normal" a presença estatal, já que elas têm presença forte na geração e transmissão de energia e têm instalações nas áreas leiloadas. "É natural que elas queiram mais". Rufino previu para 2008 os leilões das linhas que irão interligar o resto do país aos sistemas isolados de Manaus (AM) e de Macapá (AP), além de, provavelmente, as linhas que levarão a energia de Santo Antônio, no rio Madeira, ao Sudeste.

O presidente da Chesf, Dilton da Conti, justificou os elevados deságios aceitos pelas estatais dizendo que interesses estratégicos e diferenciais como o pacote financeiro adequado e a disponibilidade de materiais podem baratear as propostas.

Os investimentos previstos para as linhas leiloadas ontem somam R$ 1,051 bilhão. Todas elas deverão estar prontas em 2009, seguindo o propósito da Aneel de dar mais confiabilidade ao sistema interligado do país. O menor trecho leiloado (lote F), de 29 quilômetros no Paraná, foi arrematado pela Copel, aceitando receita de apenas R$ 665 mil por ano (52,85% de deságio). Além do lote C em consórcio, a Eletronorte ficou com o G, com receita de R$ 2,12 milhões e deságio de 51%. A Eletrosul aceitou receita anual de R$ 3,85 milhões (deságio de 48%) para construir trecho de 233 quilômetros no Rio Grande do Sul. (*Valor Online)