Título: Cana 'desafia' polêmicas, e expansão deve seguir forte
Autor: Zanatta, Mauro
Fonte: Valor Econômico, 08/11/2007, Agronegocio, p. B16

No centro do polêmica sobre eventual redução das áreas dedicadas ao plantio de grãos e cereais no Brasil em razão do boom do etanol, as lavouras de cana-de-açúcar devem ocupar uma área 66,6% superior aos atuais 6,16 milhões de hectares nos próximos 12 anos.

O estudo "Projeções do Agronegócio no Brasil e no Mundo", recém-concluído pela Assessoria de Gestão Estratégica do Ministério da Agricultura, também indica que a fatia da cana sobre o total plantado no país saltará nada menos do que 42,2% nestes 12 anos, passando dos atuais 11,6% para 16,5% na safra 2017/18 - ou 10,3 milhões de hectares. Com isso, a produção de etanol saltaria 120%, passando de 18,9 bilhões para 41,7 bilhões de litros.

O trabalho, assinado pelos pesquisadores José Garcia Gasques e Eliana Teles Bastos, aponta que a área da soja deve seguir como carro-chefe do setor rural, mas que ela aumentará 24,5% em 12 anos, chegando a 25,7 milhões de hectares no país. A participação no total cultivado deve subir apenas 5,8%, passando de 39% para 41,2%. As projeções obtidas pelo Valor envolvem 16 produtos do agronegócio e são baseadas em dez diferentes fontes de informação agropecuária, nacionais e internacionais.

A área plantada com as oito principais lavouras brasileiras deve crescer 17,6% em 12 anos. Arroz, feijão e café devem ceder participação ao forte crescimento de cana, trigo e soja. Pelos cálculos da pesquisa, o volume da produção brasileira, atualmente em 127 milhões de toneladas, deve somar 161,5 milhões de toneladas nos próximos 12 anos.

"No global, há potencial para chegar até 227,3 milhões de toneladas, mas a expansão da produtividade determinará o avanço", afirma José Garcia Gasques, coordenador-geral de Planejamento Estratégico do Ministério da Agricultura. Só a produção de soja tem potencial para saltar 31% em 12 anos, de 57,5 milhões para 75,4 milhões de toneladas. No milho, a expansão seria de 25,6%, de 51 milhões para 64,1 milhões.

Em franca ampliação, o complexo carnes tem projeção estimada de 32,1 milhões de toneladas no ano-safra 2017/18, um resultado 37% superior à produção de 23,4 milhões de toneladas de 2006/07. Nesse caso, também existe um potencial de expansão ainda maior: 38,8 milhões de toneladas. Os estudos prevêem, ainda, que o volume de carne de frango deve superar a produção de carne bovina nesses 12 anos.

Com esse impulso na área plantada e na produção global, as exportações brasileiras devem ter ainda mais destaque no cenário internacional. Pelos cálculos do governo, as vendas externas de soja em grão podem crescer 40%, saindo de 25,2 milhões para 35,24 milhões de toneladas em 12 anos. Assim, o grão brasileiro deve passar a ter a maior fatia do mercado mundial, com 33,1% do total, deixando os Estados Unidos para trás (30,4%). Atualmente, os EUA lideram com 35% ante 26,8% do Brasil.

Na carne bovina, as vendas devem dobrar, de 2,3 milhões para 4,47 milhões de toneladas anuais. Em frango, o país pode embarcar 50% mais, chegando a 4,46 milhões de toneladas. A febre mundial do etanol deve resultar na expressiva elevação das exportações brasileiras dos atuais 3,5 bilhões para 11,3 bilhões de litros em 2017/18.