Título: Bush promete mostrar mais "flexibilidade" na rodada
Autor: Balthazar, Ricardo
Fonte: Valor Econômico, 25/09/2007, Brasil, p. A4

AP Lula e Bush se cumprimentam em Nova York: esforço para injetar novo ânimo nas negociações da Rodada Doha O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente americano, George W. Bush, prometeram ontem ter mais flexibilidade nas discussões da Rodada Doha de liberalização do comércio mundial, em mais um esforço dos dois líderes para injetar ânimo nas complicadas negociações.

Os dois presidentes conversaram ontem por cerca de uma hora em Nova York, num encontro realizado à margem das reuniões desta semana na Organização das Nações Unidas. Lula fará hoje o discurso de abertura dos debates da 62 Assembléia-Geral da ONU, privilégio que por tradição é concedido ao Brasil.

"Compartilhamos um compromisso por uma rodada de negociações comerciais bem-sucedida", afirmou Bush, numa curta declaração à imprensa logo após o encontro. "Assegurei ao presidente [Lula] que os Estados Unidos iriam mostrar flexibilidade, particularmente em produtos agrícolas, para ajudar a obter um avanço [em Doha]."

Quando chegou sua vez, o presidente Lula lembrou que será necessário o apoio de outros países. "O Brasil está disposto a fazer o que for possível para a que a gente faça esse acordo", disse o presidente. "Se conseguirmos convencer países importantes como China, Índia, África do Sul, Argentina, México, mais a União Européia e o Japão, podemos nos próximos dias anunciar boas medidas."

Iniciadas em 2001, as negociações da Rodada Doha estão empacadas há mais de um ano, mas receberam um sopro de vida na semana passada, quando negociadores americanos indicaram em reuniões técnicas a disposição de aceitar cortes mais profundos nos generosos subsídios que os EUA distribuem aos seus agricultores, uma das questões centrais das discussões.

De acordo com as regras da Organização Mundial do Comércio (OMC), os Estados Unidos têm hoje autorização para gastar US$ 48 bilhões em subsídios agrícolas por ano. Na semana passada, eles sugeriram que poderiam reduzir esse limite para algo entre US$ 13 bilhões e US$ 16 bilhões. Estima-se que no ano passado o governo americano tenha gasto US$ 12 bilhões em subsídios.

Bush não mencionou números em sua conversa com Lula, mas confirmou a disposição manifestada pelos seus negociadores, de acordo com o relato que o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, fez do encontro posteriormente. Amorim vai se reunir hoje em Nova York com a representante comercial da Casa Branca, Susan Schwab.

Apesar do gesto americano, as negociações continuam difíceis porque o Brasil, a Índia e outros países em desenvolvimento resistem às pressões que sofrem dos países ricos para abrir seus mercados e reduzir as tarifas que protegem suas indústrias contra a concorrência externa.

Como Amorim lembrou ontem, também falta uma abertura maior da Europa para mercadorias agrícolas do Brasil e de outros países em desenvolvimento. Os europeus querem proteger seus agricultores classificando como "sensíveis" alguns dos produtos que o Brasil tem mais interesse em exportar, barrando a entrada das mercadorias com o uso de cotas de importação.

"No caso dos produtos agrícolas, ainda está tudo envolto em nuvens", disse Amorim.

Lula também conversou ontem sobre a Rodada Doha com a chanceler alemã, Angela Merkel, e hoje terá um encontro com o novo presidente francês, Nicholas Sarkozy. Celso Amorim disse que, se as negociações avançarem nos próximos dois meses, será possível concluir um acordo em 2008.