Título: Walfrido manda auditar empresa para se defender
Autor: Lyra,Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 25/09/2007, Brasil, p. A10

Uéslei Marcelino/Folha Imagem - 20/0/2007 Walfrido: aval do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para se defender no cargo O ministro da coordenação política, Walfrido dos Mares Guia, vai concentrar sua defesa contra denúncia de participação no mensalão mineiro na demonstração de que sua empresa, a Samos Participações Ltda, tinha condições de movimentar os R$ 22 milhões apontados como suspeitos no relatório da Polícia Federal. Walfrido, que segue prestigiado no Planalto, pediu na semana passada um prazo de 15 dias ao procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, para entregar o resultado da auditoria na empresa encomendada junto à Pricewaterhouse. A previsão é que o levantamento esteja pronto até o final da semana.

A tese é de que a empresa havia recebido, em 2002, a integralização dos recursos provenientes da venda da Biobras para a Novo Nordisk. Além do aporte de capital, a movimentação incluiria também as aplicações financeiras decorrentes dessa transação. Neste mesmo ano, a Samos contraiu um empréstimo de R$ 511 mil junto ao Banco Rural para quitar uma dívida da campanha do senador Eduardo Azeredo, em 1998.

Walfrido chegou a cogitar divulgar uma nota no fim da tarde de ontem, mas desistiu e optou por prosseguir nas conversas políticas. No domingo, conversou longamente com Lula e saiu com a certeza de que tem o apoio do presidente. "Fique e defenda-se", teria dito o presidente. Para pessoas com trânsito no governo, não há razões para se cogitar, no momento, o afastamento de Walfrido do cargo. "Todas as denúncias que o envolvem são frágeis", afirmou um ministro ouvido pelo Valor.

A avaliação interna no governo é que, mesmo diante de uma eventual denúncia do Ministério Público, a situação de Walfrido continuaria a mesma. O quadro só se alteraria se surgisse uma nova denúncia contra o ministro. O governo não quer repetir o episódio do ex-ministro de Minas e Energia Silas Rondeau, afastado sob suspeita de receber propina da empresa Gautama, até hoje não provada.

"Estamos até hoje esperando novas provas, que jamais vieram. Se agirmos assim toda vez que surgir algo contra alguém, daqui a pouco ninguém vai querer participar da vida pública", avaliou um ministro influente no governo.

Interlocutores do ministro da articulação repetem o que ele disse ao presidente, quando convidado para entrar no governo. "Presidente, a Polícia Federal está investigando a minha participação na campanha do Azeredo (Eduardo Azeredo) em 1998, mas eu não tenho nada a ver com isso. Se eu tivesse 1% de dúvidas sobre meu envolvimento, não aceitaria o cargo", disse Walfrido, durante o governo de transição.

Por ser do PTB, a avaliação é de que Walfrido exerce um papel fundamental na coalizão governamental. O cargo de articulador político é bastante cobiçado, sobretudo pelo PT, que nunca escondeu o desejo de assumir o posto que já foi de José Dirceu e trabalhou contra os titulares que não eram do partido. Os possíveis sucessores de Walfrido são petistas: Jorge Viana (ex-governador do Acre) e Henrique Fontana, vice-líder do PT na Câmara. Fontana, inclusive, não quer entrar em bolas divididas.

"Eu só espero que as instituições funcionem nesse caso como funcionaram no julgamento do chamado mensalão. Aliás, não entendo porque antes era mensalão e agora é mensalinho", declarou Fontana. Na verdade, o deputado se equivocou: mensalinho foi o nome dado às denúncias de corrupção contra o ex-deputado Severino Cavalcanti, à época presidente da Câmara. O caso em que está citado o ministro Walfrido é conhecido como "mensalão mineiro".

A executiva do PT reúne-se hoje, mas o assunto do mensalão do PSDB mineiro não está na pauta. "É evidente que estamos mais tranqüilos agora, pois o ministro envolvido não é do PT. Mas torcemos para que ele prove sua inocência, já que é um companheiro da base aliada", desconversou o deputado Jilmar Tatto (PT-SP), integrante da Executiva Nacional.