Título: Bancos devem antecipar R$ 35 bi
Autor: Travaglini, Fernando
Fonte: Valor Econômico, 08/11/2007, Finanças, p. C1

O crédito para empresas, que já cresceu 24% nos últimos 12 meses, deve acelerar ainda mais neste fim de ano. Isso porque os últimos três meses compõem o melhor período para a concessão de empréstimos puxada pelo aumento do consumo nesta época.

No ano passado, o volume concedido de capital de giro no último trimestre foi 30% superior aos dois trimestres anteriores. Neste ano, o desempenho pode ser ainda mais expressivo, já que as liberações para essa linha cresceram 42% em 12 meses.

Boa parte desse aumento se deve a entrada de recursos via pagamento de décimo terceiro salário. O Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) prevê a entrada de R$ 64 bilhões. Segundo o diretor do HSBC, Odair Dutra, desse total, ele acredita que boa parte será antecipada pelos bancos para as empresas.

"Cerca de R$ 35 bilhões dos recursos de décimo terceiro devem ser antecipados pelos bancos para as empresas entre outubro e dezembro para que o comércio e a indústria se preparem para as vendas do fim de ano", acredita o executivo do HSBC.

Além do capital de giro, uma das linhas mais usadas, crescem também as antecipações de recebíveis e cartão de crédito, além das linhas específicas de recursos para o pagamento do décimo terceiro, lembra o Dutra.

O vice-presidente do Fibra, banco especializado em médias empresas, Maércio Soncini, explica que nos meses de agosto e setembro cresce a demanda das indústrias para acelerar a produção de fim de ano.

A partir de outubro é a vez de o comércio intensificar os empréstimos para estocar produtos para o Natal. O aumento acontece principalmente no comércio, "já que os varejistas têm tomado linhas para comprar à vista e manter as margens", diz Soncini.

No Banco Real, o superintendente de middle market, Altair Assumpção, diz que o avanço chega a ficar entre 15% e 17% nas pequenas e médias empresas. "Nos anos anteriores o aumento foi de 15%", lembra o executivo.

No Unibanco, a produção cresce até três vezes, diz o diretor Ricardo Botelho. "Todo ano, o último trimestre é especialmente importante para a colocação de capital de giro, seja pelo aquecimento da economia, seja pelas despesas com o décimo terceiro", explica o diretor.

As linhas de antecipação de cartão de crédito já performados e a conta garantida com lastro em recebíveis futuros também têm grande apelo. "Neste período, o número de operações cresce até três vezes", completa o superintendente do Unibanco, Márcio Campanelli.

O diretor-executivo do Bradesco, Ademir Cossiello, diz que os empréstimos de fato se intensificam muito nesse período. O banco criou até uma conta chamada Flex, para micro e pequenas empresas, com uma espécie de cheque especial.

"Essas empresas têm dificuldade de constituir garantias e com a conta ganham agilidade na concessão", diz. As linhas para as pequenas e médias continuam entre as que mais crescem no Bradesco. O saldo atingiu R$ 37,4 bilhões em setembro, com avanço de 33,6% em doze meses.

O Banco do Brasil também tem essas linhas, diz o diretor de pequenas e médias, José Carlos Soares. Ele diz que o BB Giro Flex, que após quatro meses já atendeu 28 mil clientes, com volume liberado de R$ 1,2 bilhão, atende as necessidades de fim de ano. "São bastante adequadas".

A expansão do crédito no país tem surpreendido, revelou o diretor-executivo de controladoria do banco Itaú, Silvio de Carvalho, em teleconferência de resultados. Por isso, o banco elevou a projeção de crescimento de sua carteira neste ano. A instituição prevê agora alta de 25% a 30%, frente à estimativa anterior entre 20% e 25%. "Houve um crescimento da economia acentuado, um crescimento de renda, um nível menor de inadimplência".

Apesar do otimismo, setembro representou uma "trava" no processo de queda dos spreads e das taxas de juros finais do crédito, de acordo com análise do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi).

Segundo relatório da entidade, "isso parece ser reflexo de uma maior cautela por parte dos fornecedores de crédito diante das incertezas geradas pela crise internacional". Em termos médios, em setembro, a taxa de juros do crédito para empresas com recursos livres para pessoas jurídicas ficou em 23,2% ao ano, patamar 0,1 ponto percentual superior à taxa de agosto, segundo dados do Banco Central.