Título: Abertura de capital de grupo educacional elevou patrimônio
Autor: Valenti, Graziella ; Felício, César
Fonte: Valor Econômico, 25/09/2007, Política, p. A10

Empresário do setor de educação, o coordenador político do governo, ministro Walfrido Mares Guia, é um dos homens mais ricos no primeiro escalão do governo Luiz Inácio Lula da Silva. Walfrido atualmente é um dos donos da Kroton Educacional, nome da companhia que abriga a tradicional rede Pitágoras de ensino básico e superior, originária de Belo Horizonte.

Em 1998, na última declaração patrimonial que apresentou à Justiça Eleitoral, quando concorreu e elegeu-se deputado federal por Minas Gerais, Walfrido afirmou possuir R$ 3,5 milhões, em valores da época. Um terço deste total referia-se a uma casa no bairro das Mangabeiras, em Belo Horizonte, e a uma lancha. O restante eram suas participações no Pitágoras e na Biopart, uma produtora de insulina que vendeu durante seu mandato parlamentar como deputado.

Em julho, o ministro deu uma demonstração de vigor financeiro. Ele e os demais acionistas de seu grupo educacional decidiram abrir o capital da empresa na Bovespa. Na operação, a Kroton emitiu ações com vistas a conseguir recursos para expandir suas atividades. Com isso, conseguiu R$ 356,6 milhões.

Nessa mesma operação, os donos da empresa aproveitaram para vender uma parte de suas ações - como normalmente ocorre nessas transações. Dessa forma, os sócios conseguem transformar uma fatia do patrimônio em dinheiro, mas sem perder o controle do negócio. Eles levantaram R$ 59,6 milhões. Desse total, R$ 24,7 milhões foram para a conta de Walfrido.

A participação do ministro na Kroton é feita por meio de uma empresa chamada Samos Participações. Essa companhia é uma das donas de outras duas sociedades: a PAP e a Projecta que, por sua vez, são as controladoras da rede mineira de ensino, com 90% das ações ordinárias e 29% das preferenciais.

A história do negócio inicia-se em 1966, em Belo Horizonte, quando cinco amigos se juntaram para criar um curso preparatório para o vestibular. Segundo o ministro relatou em uma homenagem na Assembléia Legislativa de Minas Gerais no ano passado, eram apenas 33 alunos em uma sala emprestada por outro colégio. A expansão foi rápida.

A atuação no ensino básico começou cinco anos mais tarde, com a criação da Rede Pitágoras. A grande expansão ocorreu na década de 80, quando foi o modelo levado ao resto do país. Assim, a companhia pôde prestar serviços para outras escolas, que passaram a adotar a mesma metodologia de ensino mediante remuneração à rede Pitágoras.

No começo dos anos 1980, já era a maior rede de ensino mineira e havia até três unidades escolares no Iraque, para atender aos empregados da empreiteira Mendes Júnior, que realizavam obras encomendadas pelo ditador executado Saddam Hussein. Atualmente o grupo emprega 22 mil pessoas, conta com 184 mil alunos no ensino básico e 10,3 mil no ensino superior e funciona em 595 unidades.

Nos três primeiros meses deste ano, a Kroton teve faturamento líquido de R$ 45,1 milhões e lucro líquido de R$ 13,0 milhões. Depois da capitalização na bolsa, a empresa tem um caixa de R$ 319,7 milhões e uma dívida de apenas R$ 10,9 milhões.

A empresa conta com gestão profissionalizada desde 1998, mas o filho do ministro, Leonardo Mares Guia, de 32 anos, foi eleito membro do conselho de administração da empresa neste ano. O conselho da Kroton é composto por cinco membros e a empresa gastará cerca de R$ 3 milhões neste ano com o salário desses executivos.

A Biobrás foi uma iniciativa do irmão do ministro, Marcos Mares Guia, e chegou a ser maior produtora brasileira de insulina sintética. Em novembro de 2002, foi vendida para a Novo Nordisk, um grupo dinamarquês, por R$ 55,7 milhões, em valores da época.