Título: Seguro para transporte de carga pode ficar mais caro e difícil
Autor: Júnior ,Altamiro Silva
Fonte: Valor Econômico, 25/09/2007, Finanças, p. C1

Fazer seguro de transporte de carga pode ficar mais caro e complicado a partir de 2008. O segmento será o mais afetado pelas novas regras de solvência da Superintendência de Seguros Privados (Susep), que vão exigir mais capital das seguradoras de acordo com o risco que assumem.

No caso dos transportes, para cada R$ 100 de prêmio emitido, as seguradoras vão precisar ter R$ 90 em reserva técnica, bem acima do exigido hoje (R$ 33) e muito superior a outras modalidades como o seguro de automóveis (R$ 20), incêndio (R$ 55) e responsabilidade civil (R$ 20).

Segundo cálculos do consultor Luiz Roberto Castiglione, com base em estimativas para 2007, a modalidade de transporte precisaria de um capital adicional de R$ 1,8 bilhão, com um custo financeiro adicional previsto de R$ 106 milhões por conta das das novas regras da Susep.

As regras valem a partir de janeiro. Segundo o Valor apurou, a decisão da autarquia de ser mais exigente com o seguro transporte vem principalmente por causa do crescente número de fraudes no setor. Um dos casos relatados é que algumas seguradoras só contabilizavam este tipo de seguro quando ocorria o sinistro, o que distorce as estatísticas.

O mercado terá três anos para se ajustar às novas regras. Segundo o novo superintendente da Susep, Armando Vergilio, alguns percentuais e prazos de adequação podem ser ajustados. "Se as seguradoras conseguirem nos convencerem, vamos mudar. Outros países tiveram prazos maiores", afirma. Já a data de início dos ajustes, a partir de janeiro, não será mudada. "A data está mantida", afirma.

Os especialistas ouvidos pelo Valor acreditam que uma reestruturação nas carteiras de transporte será inevitável, principalmente porque elas hoje dão prejuízo. O segmento é composto por três categorias: transporte internacional (exportação e importação), nacional (mercado interno) e responsabilidade civil (danos que o motorista ou a carga possam causar a terceiros). Os dois últimos são os mais problemáticos. O transporte internacional é o que dá maior retorno e tem baixa sinistralidade. Ou seja, quanto mais a carteira da seguradora está concentrada no mercado interno, piores os números.

Com o aumento do roubo de cargas pelo país afora, além do maior número de acidentes por causa das estradas ruins e das fraudes, os sinistros não param de crescer. Em algumas seguradoras que atuam no segmento, como a Zurich, o índice aumentou 14 pontos percentuais no primeiro semestre. Na Mapfre, a carteira foi a decepção do período e o índice subiu sete pontos. "O segmento vem apresentando perdas porque a sinistralidade cresce mais que os prêmios", destaca o presidente da Mapfre, Antonio Cássio dos Santos.

O índice de sinistralidade do mercado, considerando todas os tipos de carteiras de transporte, fechou o primeiro semestre em 59,5%, quatro pontos acima de junho de 2006. O transporte nacional, porém, foi o que influenciou a alta, pois a sinistralidade da carteira de transporte internacional ficou em apenas 36% (frente a 35% do ano passado). Do total de sinistros, 15% são recuperados.

Uma das apostas do mercado é que o setor volte a crescer. Na Chubb, o segmento já vem apresentando forte expansão. No primeiro semestre, a carteira de transporte cresceu 37%. Acacio Queiroz, presidente da seguradora, atribuiu o crescimento ao reaquecimento da economia, que influencia diretamente o transporte de cargas.

No primeiro semestre, os prêmios do segmento subiram 6,4% e somaram R$ 754 milhões, segundo levantamento do consultor Castiglione com base em dados da Susep. A expansão foi maior que a de 2006 (4%) e a de 2005 (queda de 1,2%). Fazendo os ajustes pela variação do dólar (já que a carteira internacional é negociada na moeda americana), o crescimento do primeiro semestre seria de 15%.

O segundo semestre, porém, tende a concentrar maior volume de prêmios, principalmente por causa da safra agrícola e do Natal. A estimativa da Susep é de expansão de 15% para 2007. Para isso, terá que crescer 24% de julho a dezembro. Os prêmios devem chegar a R$ 1,7 bilhão.

Castiglione acredita que as mudanças no setor possam incluir desde o aumento de preços dos seguros até a redução da comercialização. Outra saída é o maior uso do resseguro, hoje ainda baixo nas carteira, em torno de 10% , por causa do alto risco da operação.

Ricardo Roda, responsável pela carteira de transporte da Ace Seguradora, prevê aumento de preços. "As seguradoras vão precisar de mais dinheiro para atuar no segmento", diz. Segundo ele, a queixa das seguradoras é que a necessidade de reserva adicional do seguro de transporte é elevado para as características da carteira, renovada mensalmente. Além da Ace, Unibanco AIG, AGF e Bradesco também são fortes no segmento.

Além de preços em alta, as exigências para fazer uma apólice de seguro tendem a crescer ainda mais. Escolta, rastreador e softawares sofisticados (que acompanham detalhadamente a viagem do caminhão) estão entre os itens exigidos pelas seguradoras.

A corretora Pamcary aposta no gerenciamento de risco. Ela criou o "Infolog Web", que permite o monitoramento e controle da viagem pela internet. Agora está lançando uma versão "express", que tem preço menor. O sistema pode ser abastecido por um rastreador, um cartão (que o motorista passa em uma leitora nos postos de gasolina espalhados pela estrada) ou um "transponder" (equipamento parecido com um celular que envia informações ao sistema).

A Pamcary possui ainda um banco de dados que tem uma espécie de "rating" de motoristas. "Se não tomar atitudes de prevenção, não tem mais quem faça seguro", afirma Luis Felipe Salek, diretor de produtos e negócios da Pamcary.