Título: Exportação e importação batem recorde em setembro
Autor: Galvão ,Arnaldo
Fonte: Valor Econômico, 02/10/2007, Brasil, p. A3

Armando Meziat: "Importações têm a indústria como principal destino" Os dados da balança comercial de setembro surpreenderam pelo inesperado vigor das exportações, que tiveram média diária de US$ 745,6 milhões, levando as vendas externas ao recorde mensal de US$ 14,16 bilhões. Mas a valorização da taxa de câmbio continua estimulando fortemente as importações, o que preocupa especialmente os fornecedores nacionais de bens de capital, matérias-primas, bens intermediários e bens de consumo. No mês passado, as importações somaram US$ 10,69 bilhões, valor que é recorde mensal, com média diária de US$ 562,9 milhões. O saldo comercial no mês foi de US$ 3,47 bilhões, elevando o superávit acumulado até setembro para US$ 30,94 bilhões.

No ano as exportações tiveram crescimento de 15,5%, com média diária de US$ 620,2 milhões e um total de vendas, neste ano, de US$ 116,59 bilhões. Mas o ritmo de aumento das importações é muito mais intenso. Houve um crescimento, no período, de 28,3%, com média diária de US$ 455,6 milhões e total de US$ 85,65 bilhões.

As informações do comércio exterior em setembro, divulgadas ontem pelo Ministério do Desenvolvimento, renovaram o alerta que vem sendo dado há muito tempo pelo diretor da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro. "A valorização da moeda brasileira está provocando desindustrialização e derrubando as exportações de manufaturados." Ele justifica seu temor com as perdas de mercado reveladas pela diminuição da quantidade embarcada desse tipo.

Castro cita exemplos de queda das quantidades vendidas de janeiro a setembro: automóveis (12,9%), motores (12,9%), celulares (33,6%), calçados (2,2%) e autopeças (1,2%). "O que vem crescendo é a substituição de importações e isso também é desindustrialização. Não temos como concorrer com os chineses."

Outro forte sinal do impacto do câmbio, segundo a AEB, é a elevação expressiva do número de empresas importadoras. De janeiro a agosto do ano passado, elas eram 21.396. Mas nos oito primeiros meses deste ano, já são 25.138.

O secretário de Comércio Exterior, Armando Meziat, tem interpretação mais otimista. Ele afirma que as importações continuam com "perfil virtuoso", o que significa participação de 20,9% dos bens de capital e 49,9% de matérias-primas e bens intermediários. Os bens de consumo têm 13,1%. "Nossas importações têm a indústria como principal destino e isso permite produzir com maior competitividade."

Para Castro, o que preocupa é a perda de espaço dos fornecedores nacionais e os 65% de commodities ou quase-commodities na pauta de exportações. "O governo acordou tarde para os efeitos do câmbio. Se a turbulência financeira internacional arrastar as economias dos Estados Unidos e da China, nossa balança comercial vai desabar", advertiu.

Meziat vai ser deslocado da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) para a Secretaria de Desenvolvimento da Produção (SDP) e já comentou que a segunda fase da política industrial tem como objetivo consolidar o crescimento das exportações, com ênfase em estímulos ao investimento, à inovação e ao comércio exterior. Ele reconheceu que o Brasil ainda é o 24º colocado na lista dos países exportadores, com 1,15% do comércio mundial. Mas ponderou que essa participação cresceu 18% desde 2002, quando o país exportou US$ 60 bilhões. Neste ano, a meta de exportações está mantida em US$ 155 bilhões, apesar de o ministro do Desenvolvimento, Miguel Jorge, ter afirmado que o saldo comercial deva ficar próximo dos US$ 40 bilhões.

Meziat informou que as exportações de setembro foram impulsionadas pelo desempenho dos setores de petróleo e material de transporte. Duas plataformas da Petrobras foram contabilizadas, apesar de não terem saído do país. É o que se chama "exportação ficta" por que esses equipamentos foram adquiridos por empresa da Holanda, mas ficarão na Bacia de Campos (RJ). Mesmo sem essas vendas, a média diária seria recorde, com US$ 711 milhões.

Outro destaque na vendas externas em setembro foi a Embraer, com o envio de 25 aeronaves para o exterior. A AEB considera que a empresa deve realizar cerca de 100 operações neste semestre, o que é muito positivo para a balança comercial.