Título: Cristina Kirchner mostra planos a Lula
Autor: Leo ,Sergio
Fonte: Valor Econômico, 02/10/2007, Brasil, p. A3

O governo e empresários brasileiros tentarão, amanhã, saber os planos da candidata favorita à presidência da Argentina, Cristina Kirchner, para o Brasil. Cristina, que já fez visitas ao México, Espanha, Estados Unidos e Equador, terá um almoço, em Brasília, com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e, em seguida, um encontro com pelo menos dez representantes de grandes empresas, o ministro do Desenvolvimento, Miguel Jorge, e o presidente do BNDES, Luciano Coutinho. Em ambos os encontros, estarão em pauta os investimentos brasileiros planejados para o país vizinho.

Lula pretende sondar a candidata argentina, mulher do atual presidente, Néstor Kirchner, sobre seus planos para os grandes temas no continente, como a relação com a Venezuela, e a situação política na Bolívia. Procurará, também, saber da opinião da candidata sobre a integração energética sul-americana e o projeto de criação do Banco do Sul, lançado pelo presidente venezuelano, Hugo Chávez, defendido por Kirchner, mas envolto em indefinições.

O encontro, do qual não se espera anúncios de decisões concretas, terá um tom mais protocolar e servirá para mostrar o interesse do governo brasileiro em estimular investimentos na Argentina.

As eleições na Argentina serão no dia 28, e Cristina Kirchner lidera as pesquisas, com pelo menos 39% das intenções de voto, apesar de escândalos de corrupção no governo do marido e denúncias de irregularidades, como o aparecimento de uma bolsa com dólares no banheiro do gabinete da ministra de Economia, Felicia Miceli, demitida com o escândalo. Elisa Carrió, a segunda colocada nas pesquisas, com menos da metade das intenções de voto em Cristina Kirchner, enviou sondagens ao governo sobre um encontro com Lula.

Na lista de convidados pelo governo brasileiro para a reunião com a candidata, está a Petrobras, que, segundo rumores no país, estaria interessada em comprar os ativos da Esso, de saída da Argentina (a estatal não confirma o interesse). O governo Kirchner mostra preferência pela compra da Exxon pela estatal Enersa, e, segundo a imprensa local, também se inclinaria por uma sociedade com a venezuelana PDVSA.

Cristina Kirchner é tida na Argentina como uma política mais moderna e mais respeitosa em relação às leis do mercado que o marido e uma das dúvidas dos brasileiros é qual o papel do investimento estrangeiro nos planos do futuro governo. Estarão na reunião com a candidata 12 altos executivos de empresas como a Vale do Rio Doce, Odebrecht, Itaú, Coteminas, Mafrig, Gerdau, Marcopolo, Ambev e Camargo Corrêa.

Em pronunciamentos recentes, a candidata, que é avessa, como o marido, a entrevistas com a imprensa, defendeu como um dos maiores méritos do novo governo a coincidência entre as promessas de campanha e as ações do Executivo, em questões como o rompimento com o FMI e a renegociação da dívida externa, a investigação sobre violações dos direitos humanos na ditadura argentina e a prioridade ao desenvolvimento da empresa nacional.