Título: Últimos processos contra Renan são unificados e terão aliado como relator
Autor: Ulhôa ,Raquel
Fonte: Valor Econômico, 02/10/2007, Brasil, p. A8

O presidente do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar do Senado, Leomar Quintanilha (PMDB-AL), tomou ontem duas decisões polêmicas. Primeiro, unificou as duas últimas representações por suposta quebra de decoro contra o presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL). Segundo, escolheu como relator Almeida Lima (PMDB-SE), o senador que mais se expôs na defesa de Renan no primeiro processo pelo qual o pemedebista foi julgado - e absolvido - no plenário.

"Entendo essa atitude do Leomar Quintanilha como uma provocação ao conselho de ética. Principalmente tendo anunciado na segunda-feira, escondidinho. Haverá contestação", reagiu o líder do DEM, José Agripini (RN), ao saber das novidades. "A escolha de Almeida Lima é a definição do jogo antes de ele acontecer", afirmou Renato Casagrande (PSB-ES).

Agripino ficou ainda mais irritado ao saber da possibilidade de arquivamento da representação proposta por DEM e PSDB - na qual Renan é acusado de comprar um jornal e emissoras de rádio em Alagoas por intermédio de "laranja". O líder do PMDB, Valdir Raupp (RO), admitiu que a solução está sendo examinada, sob o argumento jurídico de tratar de fato anterior ao atual mandato do alagoano. "Todas essas decisões de Leomar aumentam as tensões no Senado. Se aceitar esses atos, o Conselho de Ética estará se suicidando", disse Agripino.

Quintanilha justificou a escolha de Almeida dizendo que, dos integrantes do conselho convidados a desempenhar a função, o sergipano foi o único a aceitar. "O conselho tem apenas 15 membros. É um universo pequeno", disse. Afirmou que, entre os convidados, descartou apenas os senadores do DEM e do PSDB, partidos autores da terceira representação (uso de "laranja" na compra de veículos de comunicação). A denúncia foi feita pelo ex-deputado e ex-aliado de Renan, João Lyra.

O P-SOL propôs a quarta representação, que acusa Renan de comandar suposto esquema de desvio de recursos em ministérios comandados pelo PMDB. A denúncia foi feita pelo advogado Bruno Miranda Lins, ex-genro de Luiz Coelho, a quem também acusa de participação no esquema.

A polêmica deve tumultuar a reunião de hoje do conselho de ética. Há quase um mês o conselho não se reúne. A última vez foi em 5 de setembro, quando, por 11 a 4, foi aprovado o relatório Renato Casagrande (PSB-ES) e Marisa Serrano (PSDB-MS) propondo a cassação do mandato de Renan, por suposta quebra de decoro no uso de lobista da construtora Mendes Júnior como intermediário de pagamentos pessoais. Em 12 de setembro, o plenário manteve o mandato, por 40 votos contra a cassação, 35 a favor e seis abstenções.

Naquela que foi a primeira representação aberta contra Renan, Almeida Lima foi um dos três relatores e o único a propor arquivamento. Casagrande criticou escolha do sergipano para relatar os novos processos. Líder do PSB, ele afirmou ter recusado convite para exercer de novo a função porque achou que "não seria elegante" assumir nova investigação. "Almeida, que desde o primeiro momento é zagueiro central do time de Renan, não deveria assumir", afirmou.

Integrante do grupo de senadores do PMDB que se rebelou contra o governo e derrubou a medida provisória que criou a Secretaria de Planejamento de Longo Prazo da Presidência da República, Almeida Lima foi o único atendido em suas reivindicações. Por interferência da cúpula nacional do PMDB, conseguiu o comando do diretório do partido em seu Estado.

Na reunião de hoje do Conselho, o primeiro item da pauta é a discussão do parecer do senador João Pedro (PT-AM), que propõe sobrestamento (paralisação) da segunda representação contra Renan, acusado pelo P-SOL de atuar para que a indústria de bebidas Schincariol tivesse dívidas fiscais perdoadas. João Pedro sugere que o processo aguarde a investigação do Conselho de Ética da Câmara sobre suposta participação do deputado Olavo Calheiros (PMDB-AL), irmão de Renan, no episódio.