Título: HTC, de Taiwan, sedia divisão no Brasil e inicia produção local
Autor: Rosa , João Luiz
Fonte: Valor Econômico, 02/10/2007, Empresas, p. B3

Cesar Keller, gerente geral da HTC na América Latina: "Acreditamos que este será o Natal do telefone inteligente no país" Desde que começou atuar no mercado de tecnologia da informação (TI), há 18 anos, Cesar Keller nunca comprou um telefone celular. "Sempre ganhei os aparelhos que eu uso das empresas nas quais trabalhei. Jamais precisei ir a uma loja", conta o executivo. Curiosamente, em seu novo cargo Keller tem pela frente esse mesmo desafio: estimular mais e mais pessoas a entrarem numa loja e saírem de lá com um celular da HTC - a fabricante de Taiwan, dona da marca QTek - no bolso.

A HTC (High Technology Corp) anuncia nesta semana a abertura de uma operação própria na América Latina, depois de se estabelecer na Ásia, na Europa e nos Estados Unidos. O quartel-general ficará em São Paulo e Keller encabeçará os negócios na região.

Esse desembarque marca também o início da produção dos equipamentos da HTC no país. "A companhia tomou a decisão de fabricar no Brasil os aparelhos que vão abastecer o mercado local e os dos países vizinhos", diz Keller. Antes da HTC, aonde chegou em fevereiro, o executivo trabalhava em Miami, como diretor de marketing da Nokia para a América Latina.

A produção local começou com um projeto piloto, em outubro do ano passado, e a previsão é de que ganhará força, agora, com o lançamento da empresa. A manufatura está sob responsabilidade da canadense Celestica, que produz os aparelhos em sua fábrica de Campinas (SP). Dos nove modelos com que a HTC pretende marcar sua estréia na América Latina, sete já são feitos no Brasil. Até agora, toda a produção está direcionada ao país, mas o projeto é de iniciar as exportações em 2008.

A estratégia de produção no Brasil tem dois aspectos que a diferenciam do sistema de manufatura que sempre caracterizou a HTC. Para começar, trata-se da primeira operação de fabricação fora do eixo Taiwan-China, de onde saíam até agora todos os produtos da empresa, independentemente do mercado a que se destinavam.

O segundo ponto é que esta é a primeira operação de manufatura sob encomenda da qual a HTC é cliente. Todas as outras fábricas são próprias. "Em âmbito global, nossa estratégia de manufatura não passa pela terceirização, mas na América Latina percebemos que fazia mais sentido entrar desse jeito", diz Keller.

A HTC foi criada há dez anos para produzir celulares para outras companhias - o papel ocupado pela Celestica em sua estratégia no Brasil. À medida que os negócios evoluíam, porém, a empresa decidiu lançar modelos com marcas próprias. Criou duas delas - QTek, pela qual ficou conhecida no Brasil -, e HTC. Hoje, a produção sob encomenda ainda existe, mas representa uma pequena parte da receita total, de US$ 3,2 bilhões no ano fiscal 2006.

O foco da HTC está dirigido aos chamados telefones inteligentes - aparelhos que usam sistemas operacionais complexos e oferecem recursos de comunicação que vão muito além das ligações tradicionais de voz, como e-mail, mensagem instantânea e navegação na internet. Na HTC, todos os modelos usam o sistema Windows Mobile, da Microsoft, com a qual a fabricante mantém um intercâmbio em áreas estratégicas, como design e desenvolvimento.

Até agora, a maior parte dos aparelhos inteligentes tem sido consumida por grandes empresas, que os adquirem para equipar seus executivos. Novas oportunidades, porém, estão se abrindo em vários segmentos. É o caso das companhias de pequeno e médio portes, cujas compras têm crescido rapidamente, diz Keller.

O maior potencial, porém, está mesmo no mercado de usuários finais - as pessoas comuns que começam a substituir seus celulares por modelos com mais recursos. No ano passado, foram vendidos cerca de 30 milhões de celulares na América Latina, com o Brasil representando um terço desse movimento, afirma o executivo. Os telefones inteligentes ficaram com cerca de 1% desse bolo. Para este ano, a projeção adotada pela HTC é de que as vendas continuarão no mesmo patamar, mas com os celulares inteligentes crescendo para algo entre 1,5% e 2%, considerando apenas as vendas para usuários finais. "Para 2008, a expectativa é de que a participação ultrapassará os 3% ou 4%", afirma Keller.

Para aproveitar melhor suas redes de dados, as operadoras de telefonia móvel estão dando impulso às vendas dos telefones inteligentes, com o lançamento de pacotes de dados e voz nos quais os aparelhos saem de graça ou muito perto disso. "Acreditamos que este será o Natal do telefone inteligente no Brasil, como aconteceu na Europa em 2005 e nos EUA em 2006", diz Keller. A empresa já estabeleceu parcerias com todas as operadoras móveis do país.

A estratégia da HTC é criar uma ponte tecnológica e oferecer desde produtos parecidos com os celulares comuns até modelos avançados, próximos ao computador, passando por itens médios, que vem com teclados fixos ou deslizantes. Entre os avançados, o HTC Advantage vem com 8 gigabytes (GB) de memória e tem as dimensões de um notebook ultraportátil. O topo de linha, já anunciado, mas ainda não lançado, é o HTC Shift, que a empresa vai vender como um substituto aos notebooks.