Título: Imcopa, Quatro Marcos e Nextel captam US$ 515 milhões no exterior
Autor: Lucchesi ,Cristiane Perini
Fonte: Valor Econômico, 02/10/2007, Financas, p. C2

Apesar da crise de liquidez no mercado internacional, a disponibilidade de crédito bancário para o Brasil se mantém. Além dos bancos, fundos de hedge internacionais também têm comprado operações de pré-pagamento à exportação de empresas brasileiras, como a Quatro Marcos, a Imcopa e a Nextel, que captaram US$ 515 milhões.

A Quatro Marcos obteve em agosto US$ 125 milhões, pelo prazo de vencimento em três anos, sem amortizações, ao custo de Libor, a taxa interbancária de Londres, mais 5% ao ano. "Os fundos de hedge nos procuram em busca de ativos de maior rendimento com lastro em exportações e nós apresentamos novas empresas com qualidade de crédito a eles", diz João Teixeira, vice-presidente executivo do ABN AMRO, que se especializou nesse tipo de operação.

Em março, o ABN fechou outra operação de US$ 25 milhões, também com vencimento em três anos, com prêmio de risco de crédito de 5,5% ao ano sobre a Libor, para a Portobello. Segundo Teixeira, geralmente um fundo de hedge chega a ficar com um terço do total do empréstimo, que depois é distribuído para outros fundos.

Já a exportadora de soja Imcopa obteve US$ 90 milhões há três semanas em operação de pré-pagamento à exportação de vencimento em três anos liderada pelo ING. Nesse caso, foram os bancos que ficaram com o crédito: participaram o Fortis, o Rothschild, o HSBC, o Natixis e o Société Générale. "Havia demanda para mais, mas resolvemos ficar nos US$ 90 milhões", afirmou Alexandre Rezende, diretor do banco de investimento e de corporate do ING.

"As operações com lastro em exportações atraem mais o interesse dos tomadores, pois são mais baratas", diz Rezende. "Os investidores gostam, pois o nível de proteção é maior", conta.

As agências de crédito à exportação e organismos multilaterais também voltaram a ganhar importância no mercado de captações externas brasileiras. A Nextel está realizando empréstimo externo de US$ 300 milhões, sob a liderança do sul-africano Banco Standard de Investimento, com participação da FMO (Netherlands Development Finance Company), segundo o mercado.

Os empréstimos para as empresas que vão construir plataformas de petróleo para alugar para a Petrobras - da Queiroz Galvão, da Schahin e da Delba Marítima-, com garantias nos recebíveis da gigante do petróleo, que juntas somam mais de US$ 2 bilhões, foram abertas antes da crise de crédito externa e estão em andamento, sem solavancos. As transações da Schahin e da Queiroz Galvão, sob as lideranças respectivas do WestLB e do ING, estão em fase final de assinatura dos contratos, com sucesso no processo de venda.

"Mais de 15 instituições participaram do empréstimo à Schahin", conta Angélica Wiegand, chefe da área de finanças estruturadas e corporativas do WestLB. "O sindicato de instituições já está fechado", diz ela.

Segundo a executiva, captações externas para projetos de investimento e fusões e aquisições no setor de produção de etanol também deverão se manter fortes daqui para a frente. "Os agronegócios brasileiros também continuam a atrair os bancos internacionais, pois os países asiáticos estão ganhando cada vez mais participação como parceiros comerciais brasileiros, deixando para um segundo plano os Estados Unidos", lembra ela.

As concessões de rodovias e outros projetos de investimento em infra-estrutura também devem movimentar o mercado de empréstimos externos daqui para a frente, diz a executiva.