Título: O que comprar depois dos 60
Autor: Cotias ,Adriana
Fonte: Valor Econômico, 02/10/2007, EU & Investimento, p. D1

A velocidade com que o Ibovespa recuperou terreno acendeu o sinal amarelo de que o jogo para a renda variável em 2007 está longe de ser favas contadas. Depois de o indicador ter subido 10,67% só em setembro, os participantes da Carteira Valor escolheram a dedo o que sugerir para outubro. Papéis que podem se beneficiar de algum evento no curto prazo e aqueles que ficaram fora do rali recente compuseram a lista. No mês passado, o portfólio das "top 10" rendeu 9,16%, abaixo do Ibovespa. Mas, no ano, a carteira ainda leva a melhor, com valorização de 47,52%, em comparação aos 35,96% do índice. Em 12 meses, dispara para 80,94%, quase 15 pontos percentuais acima.

Apesar de outubro ter começado com o índice em alta de 3,10% e recorde, aos 62.340 pontos, não há como desconsiderar alguma volatilidade no meio do caminho. Como a reunião do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) só ocorrerá na virada do mês, é possível antever a especulação acerca de um novo corte do juro básico nos EUA, diz a chefe de análise do Banif Banco de Investimentos, Catarina Pedrosa. Assim, a especialista fez um mix com papéis amarrados com o Ibovespa, caso de Petrobras e Vale do Rio Doce, e com ações de segunda e terceira linhas, que subiram pouco. "São papéis que podem contrabalançar uma eventual realização."

Foi sob a perspectiva de uma correção de preços na primeira quinzena do mês que a Itaú Corretora apelou para um portfólio mais defensivo. "O mercado subiu muito rápido e, olhando para fundamentos, o Ibovespa fecha o ano na casa dos 67 mil pontos, sobrando pouco para os três últimos meses", diz o estrategista de pessoa física Fábio Anderaos de Araújo.

Algumas das escolhas da casa se pautaram por eventos setoriais, como CCR ON, pela proximidade do leilão para concessão de rodovias federais no dia 9. A possibilidade de a Ultrapar adquirir os ativos da Esso e da Texaco no Brasil justificaram a inclusão, ao tempo em que as Units (recibos de ações) do Unibanco ingressaram no portfólio, dado o desfecho esperado para a aquisição do holandês ABN Amro pelo consórcio integrado pelo espanhol Santander, que, no Brasil, assumiria os ativos do Banco Real.

"Isso colocaria o Unibanco no quarto lugar do ranking entre os privados e a instituição poderia ser alvo de aquisição ou associação", diz Anderaos. "É um banco que tem massa crítica e uma linha importante no segmento de crédito ao consumo, o cartão Hipercard." Mesmo que não ocorra nenhuma movimentação adicional à do ABN, o especialista espera que a concretização do negócio resulte na valorização dos ativos bancários no mundo.

A contabilização da venda de fatia da Redecard nos resultados do terceiro trimestre do Unibanco é que levou a Concórdia a incluir os papéis entre suas indicações. "Proporcionalmente aos demais sócios (Itaucard e Citibank), o efeito para o Unibanco é gigante", pontua o chefe de análise, Eduardo Kondo. CCR ON e Tractebel ON são outras apostas, sob a perspectiva de que o governo ponha em marcha o programa de aceleração do crescimento (PAC). "No caso da CCR, pesa mais o aumento no tráfego das rodovias do que a licitação das federais, que proporcionarão retorno menor", diz. Já a Tractebel é considerada uma das melhores empresas de geração, a seu ver.

Da lista da corretora do Real, quatro ações estão no ranking das dez mais. Uma delas é Gerdau PN, que caiu 0,19% no mês passado, com o mercado digerindo a aquisição da Chaparral Steel pela Gerdau Ameristeel considerada cara demais por alguns. "A empresa tem um futuro promissor, com foco na indústria e na infra-estrutura nos EUA e na construção civil no Brasil", diz o analista Pedro Galdi. AmBev PN é outra aposta há meses e deve ser favorecida pelo início do período mais favorável para vendas de cervejas e refrigerantes.