Título: Brasil desistiu da China, reclama exportador
Autor: Landim , Raquel
Fonte: Valor Econômico, 03/10/2007, Brasil, p. A3

Rodrigo Maciel, do Conselho Brasil-China: um erro que pode ser irreversível Nos últimos anos, o governo enfrentou protestos de setores industriais que, preocupados com o crescente volume de importações, reclamavam da complacência do Brasil com a China. A situação mudou radicalmente. Agora é a vez dos exportadores, que venderam mais de US$ 8 bilhões para a China até setembro, queixarem-se que o gigante asiático saiu da rota da política externa brasileira.

"O Brasil se distanciou completamente da China. Estamos cometendo um erro grave, que pode ser irreversível. A China não faz mais parte da agenda brasileira", argumenta Rodrigo Maciel, secretário-executivo do Conselho Empresarial Brasil-China, entidade que representa empresas como Vale do Rio Doce, Aracruz, Gerdau, Embraco, Sadia, Odebrecht, entre outras.

Maciel acredita que o Itamaraty deixou de prestigiar a China quando percebeu que o país seria pouco útil em suas prioridades: a reforma do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas e as negociações da Rodada Doha, da Organização Mundial do Comércio. Outro motivo para o desinteresse brasileiro é o fato de que a China não cumpriu as promessas de investimento no país.

Ele avalia que, embora a China não seja contra o pleito brasileiro, apoiar o Brasil como membro pleno do conselho significaria conceder o mesmo status ao Japão, rival histórico. Os chineses também não farão esforço para a conclusão de Doha por conta das concessões feitas ao ingressarem na OMC.

As entidades industriais enxergam a relação com a China com receio. Para o diretor-adjunto de comércio exterior da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Carlos Cavalcanti, "o problema do comércio com a China é que a pauta é pobre e está concentrada em minério de ferro e soja". A Fiesp é uma das entidades mais empenhadas na adoção de tarifas antidumping contra a China. Cavalcanti defende que a relação comercial entre Brasil-China é de "metrópole e colônia", porque os brasileiros vendem commodities, enquanto os chineses exportam manufaturados.

O Itamaraty nega um distanciamento entre Brasil e China. Fontes lembram que os ministros de relações exteriores dos dois países se reuniram no mês passado em Nova York, juntamente com representantes de Índia e Rússia. No ministério do Desenvolvimento, houve uma mudança de rota com a substituição de Luiz Furlan por Miguel Jorge, que não se restringe a China. O atual titular da pista prioriza a política industrial ao invés das missões comerciais. O papel de incentivar as exportações está com a Agência de Promoção de Exportações (Apex), que recentemente levou calçadistas a China para tentar vender seus produtos.

O Conselho Brasil -China insiste que a pouca relevância atual da China na agenda do Itamaraty já produz efeitos negativos de curto prazo, como o número reduzido de visitas oficiais, o orçamento enxuto e a escassez de funcionários da embaixada de Pequim. "É uma enorme contradição, porque a China é um importante parceiro comercial do Brasil", diz Maciel. A China se tornou o terceiro principal destino das exportações brasileiras e o segundo maior fornecedor do país. De janeiro a setembro, a corrente de comércio chegou a US$ 16,9 bilhões.

"O descaso da política externa brasileira já foi percebido na China", diz Maciel. Ele conta que esteve no país há algumas semanas para reuniões bilaterais e para o encontro do Fórum Econômico Mundial. Nos encontros, os chineses deixaram claro que o Brasil é um importante fornecedor de matérias-primas, mas que outros países podem exercer o mesmo papel sem desgaste político. Recentemente diversas tarifas antidumping foram aplicadas pelo Brasil contra produtos chineses.