Título: BNDES faz aporte de R$ 56 milhões e vira acionista da BRQ
Autor: Rosa , João Luiz
Fonte: Valor Econômico, 03/10/2007, Tecnologia & Telecomunicações, p. B4
A BRQ, companhia de serviços de tecnologia da informação (TI), tem um novo sócio: o BNDES. Por meio do BNDESPar, seu braço de participações, o banco fez um aporte de R$ 50 milhões na companhia, assumindo uma participação minoritária no negócio. O controle continua nas mãos dos quatro sócios originais, que fundaram a BRQ em 1993. Para reforçar o caixa, a empresa também obteve uma linha de crédito de R$ 6 milhões no Programa para o Desenvolvimento da Indústria de Software e Serviços, o Prosoft, que havia expirado no fim de julho, mas foi renovado pelo BNDES no mês seguinte.
"Estávamos buscando um sócio financeiro para expandir a empresa", diz Benjamin Quadros, presidente da BRQ. "Conversamos com muita gente, incluindo fundos de capital de risco, mas o BNDES foi a instituição com a qual mais nos identificamos." As conversas com o banco começaram em julho do ano passado, conta o executivo.
Agora, com o caixa fortalecido, a BRQ planeja levar adiante um plano de investimento em várias frentes de atuação, que envolvem principalmente a aquisição de empresas menores e os preparativos para sua oferta pública de ações.
Nos últimos quatro anos, a BRQ adquiriu quatro concorrentes pequenas, com o objetivo de assumir uma posição de consolidadora no segmento. "Há pérolas no mercado e queremos juntá-las à companhia", diz Quadros.
Essa chance de consolidação é um dos itens que atraiu a atenção do BNDES, diz Marcelo Cabrera, chefe do departamento de empresas inovadoras do banco. "O setor de TI tem um potencial muito grande, principalmente pela oportunidade de consolidação de empresas menores por uma companhia maior e capitalizada". Uma das metas do banco, afirma o executivo, é estimular a criação de empresas brasileiras fortes em áreas consideradas estratégicas, como a tecnologia.
Atualmente, a BRQ está envolvida em processos de negociação de compra com dez empresas diferentes, afirma Quadros. O universo potencial para as aquisição, no entanto, é bem maior. "Há pelo menos de 50 a 80 companhias que se encaixariam em alvos potenciais de compra", diz ele.
A próxima aquisição a ser anunciada pela BRQ provavelmente também marcará seu primeiro negócio no exterior. Está em fase de conclusão um negócio que dará aos sócios da companhia o controle de uma empresa americana de serviços de TI, com sede em Nova York. As negociações já haviam sido iniciadas antes da entrada do BNDES, mas o novo aporte vai facilitar a aquisição, diz Quadros.
Com essa compra, o objetivo da BRQ é montar uma base avançada nos Estados Unidos para ampliar o faturamento com a exportação de serviços, considerada a mina de ouro nesse setor. "Enquanto o mercado brasileiro de desenvolvimento de software movimenta US$ 2 bilhões e cresce 30% ao ano, a exportação global de serviços para o mercado americano chega a US$ 40 bilhões, com crescimento de 40%", compara Quadros.
Na BRQ, a exportação de serviços representa cerca de 10% da receita total, que no ano passado foi de R$ 130 milhões. Com o reforço à área, o plano é que as vendas ao exterior passem a responder por 30% de um faturamento de R$ 1 bilhão, que os sócios da empresa prevêem atingir no prazo de cinco anos.
Para alcançar a meta, a companhia planeja investir na criação de novas fábricas de software. Tratam-se de grandes centros de serviços onde engenheiros e programadores escrevem as linhas de código dos programas encomendados ou desenhados pelos clientes, a atividade central da BRQ. A empresa tem três fábricas de software - em São Paulo, no Rio e em Curitiba. Agora, analisa ampliar as operações para Minas Gerais e um Estado do Nordeste, ainda não definido.
Como a atividade é essencialmente baseada em mão-de-obra, a previsão é de que o número de funcionários deverá crescer muito à medida que os negócios avançarem: até 2012, a projeção é de o quadro atual, de 2 mil pessoas, será multiplicado por seis, chegando a 12 mil profissionais.
A empresa pretende aplicar parte do novo aporte na modernização de seus sistemas informatizados de gestão para apoiar esse crescimento, com destaque para softwares voltados para a área de recursos humanos.
Aos gestores da BRQ caberá a tarefa de fazer essa transformação ao mesmo tempo em paralelo à finalização dos preparativos para um dos maiores saltos da empresa: sua oferta inicial de ações. "Já estamos em processo de abertura de capital", afirma Quadros. A companhia "está em fase de namoro" com os bancos que serão responsáveis pelo processo e já contratou a PricewaterhouseCoopers para fazer sua auditoria. A previsão é deixar a BRQ preparada para entrar em bolsa no fim do ano que vem. "Não temos urgência, mas nosso projeto é estar prontos nesse prazo", diz Quadros.
O esforço para a abertura de capital foi outro fator que levou o BNDES a investir na companhia. "A empresa tem grandes possibilidades de ir ao mercado financeiro em um curto espaço de tempo", afirma Pedro dos Passos, gerente do departamento de mercado de capitais do banco. Um das contribuições do BNDES, diz o executivo, será ajudar a BRQ a alcançar os patamares de governança corporativa exigidos das empresas de capital aberto.