Título: Reajuste da Bolívia ainda não afeta distribuidoras
Autor: Capela ,Maurício
Fonte: Valor Econômico, 03/10/2007, Empresas, p. B8

A disparada recente do preço do barril de petróleo no mundo parece ter acertado em cheio alguns setores da economia no Brasil. Depois dos fabricantes de resinas plásticas admitirem que negociam um reajuste entre 5% e 11% para o último trimestre deste ano, agora é a vez da Petrobras também reconhecer que o gás natural importado da Bolívia, e que é vendido para as distribuidoras no país, deverá sofrer um aumento de 7,9%.

Contudo, no caso do gás boliviano, o reajuste poderia ser esperado, já que segundo as regras que regem o acordo de compra e venda desse insumo entre a Bolívia e a Petrobras, a cada três meses, sempre haverá revisões de preços. E como a cotação do petróleo rompeu os US$ 80 e chegou a ultrapassar os US$ 83 durante setembro passado, era natural esperar que o milhão de BTU do gás natural do país vizinho subisse ainda em 2007.

Mas as distribuidoras desse insumo ouvidas pelo Valor informaram que ainda não receberam qualquer notificação da Petrobras. E algumas, mesmo que recebam o informe de que um novo preço será estabelecido a partir de outubro deste ano, por exemplo, não poderão repassar aos seus consumidores residenciais, industriais ou comerciais, porque seus contratos só permitem reajustes anuais.

"Não recebemos qualquer notificação da Petrobras. Mas de toda a forma o nosso reajuste é anual, datado para dezembro. Portanto, não haveria repasse algum neste momento", afirma Ronaldo Kohlmann, assessor da diretoria-geral da Gás Brasiliano. Controlada pela italiana Eni, a Brasiliano atende 375 municípios, que representam 58,1% do território do Estado de São Paulo desde dezembro de 1999, quando obteve os direitos de concessão. Nesses 141,623 mil quilômetros quadrados, há cidades como Ribeirão Preto, São José do Rio Preto, Barretos e Bauru.

"Nós não nos assustamos com a notícia. Primeiro, porque o repasse não é automático. Depois, porque somente haverá algum reajuste na nossa área de concessão em maio de cada ano", explica Sérgio Silva, diretor de mercado industrial e GNV da Comgás.

Silva explica que a formação de preços do milhão de BTU do gás natural não contabiliza apenas o reajuste do produto boliviano. Leva também em consideração índice de inflação, a eficiência operacional no ano e a taxa de câmbio. Por conta dessa junção de fatores, o executivo aposta que o milhão de BTU na área da Comgás, que inclui São Paulo (SP), por exemplo, não deverá ser superior a 3% em maio de 2008.

"Em maio de 2007, tivemos um reajuste de 3% e o milhão de BTU atual é de US$ 5,49", diz o diretor da Comgás, controlada pela britânica BG. Sendo assim, sua previsão dá conta que o milhão de BTU para 2008 na área da companhia não deverá ultrapassar os US$ 6. O gás boliviano representa 75% do insumo total negociado pela Comgás.

Outra concessionária no Estado de São Paulo, a Gás Natural São Paulo Sul, controlada pela espanhola Gas Natural, foi mais econômica. Limitou-se a dizer que não foi comunicada oficialmente pela Petrobras. E informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que sua data de reajuste é anual e ocorre em maio. Lembrou ainda que não promove qualquer aumento de preços no seu milhão de BTU, vendido em 93 municípios paulistas, situados entre Sorocaba e Registro, desde 2006.

A Cia. Paranaense de Gás (Compagas) também confirmou que ainda não havia recebido notificação alguma da Petrobras. Mas disse, por meio de sua assessoria de imprensa, que já esperava algum ajuste de preços.

A julgar pelo preço do barril de petróleo no mercado internacional neste início de outubro, as distribuidoras de gás natural no país poderão ficar mais tranqüilas. Mesmo sem registrar queda expressiva nas cotações, o barril do petróleo ficou ontem pouco acima dos US$ 80.