Título: Empresas brasileiras vão investir mais no exterior
Autor: Carvalho , Maria Christina
Fonte: Valor Econômico, 03/10/2007, Finanças, p. C5

As empresas brasileiras em processo de internacionalização terão grandes vantagens em disputas por aquisições e fusões nos próximos meses. A opinião é de uma das maiores autoridades no assunto, Gary Cohn, co-presidente do banco americano Goldman Sachs, líder nesse tipo de negócio segundo ranking da Thomson Financial, com US$ 1,1 trilhão de operações anunciadas de janeiro a agosto deste ano.

Cohn explicou que os caçadores mais aguerridos de oportunidades de compra no mundo todo, os fundos de private equity, estão com poder de fogo arrefecido pelo aperto internacional de crédito. Já as empresas brasileiras são pouco alavancadas e poderão levantar recursos com facilidade. Outra vantagem é o fortalecimento do real que tornou os preços das empresas americanas mais baratas. "As empresas brasileiras e dos mercados emergentes em geral serão compradores claramente mais competitivos. Não vou me surpreender se nos próximos seis meses houver uma maior predominância dessas empresas nas fusões, aquisições e consolidações, especialmente nas operações cross border", afirmou Cohn ao Valor.

A presença do executivo no Brasil pela segunda vez em pouco mais de seis meses tem relação com a expectativa de expansão dos negócios no país e montagem do banco local, que entra em seu estágio final, além de um olhar atento aos projetos de infra-estrutura, área em que o banco pode comprometer recursos de seu poderoso fundo.

Além disso, nos últimos cinco anos, o Goldman Sachs vem trabalhando para ampliar os negócios internacionais. Nos últimos três trimestres, o percentual dos resultados obtidos fora dos Estados Unidos subiu de 51% para 52% e 53%. "Isso não é coincidência. É resultado de um trabalho consciente. Queremos deixar nossa pegada fora dos países do G-7 e o Brasil é um das maiores economias fora desse grupo", disse Cohn. Outra razão por trás da estratégia é a globalização crescente das companhias, que querem fazer negócios fora de seus mercados domésticos. "Temos vista muita consolidação em setores como alumínio e aço com empresas de mercados emergentes adquirindo companhias de países desenvolvidos. Veremos muito mais negócios desse tipo", afirmou o executivo.

Segundo o co-chefe do banco de investimento para a América Latina, Eduardo Centola, o Goldman Sachs esteve envolvido em todas as transações de compra no exterior feito por empresas brasileiras nos últimos dois anos, seja do lado da ponta compradora ou da vendedora, ou como financiador.

Um alvo nítido no radar do banco é o leilão de estradas pedagiadas federais, que pode movimentar US$ 2 bilhões. O Goldman Sachs avalia sua participação no leilão, por meio de seu fundo de infra-estrutura, que tem patrimônio em ações de cerca de US$ 6,5 bilhões, mas pode alavancar mais recursos assumindo dívidas. De toda forma, a participação sempre será junto com investidores locais, como o banco fez no México. O Goldman Sachs acaba de investir US$ 4,1 bilhões junto com a construtora ICA no programa de privatização de quatro estradas mexicanas.

Segundo o presidente do Goldman Sachs do Brasil Banco Múltiplo S.A, Valentino D. Carlotti, esse é o modelo preferencial adotado pelo Goldman para seus investimentos, inclusive com capital próprio: "Nós somos percebidos pelos clientes como melhores adviser se participamos do investimento com dinheiro".

O Goldman opera no Brasil há 17 anos. O banco foi fundando em 2001, mas ficou praticamente inativo até 2006, a não ser pela frenética presença na área de área de fusões e aquisições. O Goldman é o terceiro no ranking de fusões e aquisições anunciadas dos primeiros oito meses do ano no Brasil, elaborado pela Thomson Financial.

Depois de tentar sem sucesso comprar algum banco de investimento brasileiro, partiu para construir sua própria franquia. Da última vez em que esteve no Brasil, em março, Cohn prometeu construir um banco completo no país, ressaltando que dinheiro não era problema. "O Goldman não terá limite de capital para operar no Brasil"", disse na ocasião.

Desde então vem montando o banco e praticamente já cumpriu sua promessa. Primeiro montou o time de pesquisa de ações e assessoria em aberturas de capital. A equipe de pesquisa de ações cuida da América Latina como um todo. Só ficou nos Estados Unidos o time de análise econômica. Nas próximas semanas deve chegar ao mercado a operação de abertura de capital da Bovespa, que deverá ser uma das maiores já feitas.

Adquiriu assentos na bolsas que lhes deram acesso à negociação de renda variável e renda fixa no mercado. Em pouco tempo, o banco tornou-se responsável por um quarto do volume negociado na Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F) em câmbio e produtos de juros.

"Tivemos que atrair toda a nova equipe. Agora estamos construindo a plataforma de negociação de ações. Queremos estar em todos os mercados. Já temos o esqueleto, falta cobrir os ossos com carne. Já dobramos a equipe local e vamos dobrá-la novamente", disse Cohn.

Por trás dessa estratégia está a expectativa de crescimento dos negócios locais com ações. Apesar de o mercado internacional estar absorvendo, em média, 70% das ofertas de ações (IPO na sigla em inglês) que têm sido feitas, o Goldman Sachs acredita que pode mudar com a queda dos juros, disse Carlotti, que assumiu o posto em abril.

Além disso, segundo Cohn, embora as ações da empresa possam ser negociadas no mercado americano, nada melhor do que uma equipe local para conhecer em profundidade a companhia e sua direção.

Um futuro passo que o Goldman Sachs pretende dar no mercado brasileiro é criar uma estrutura para originar e securitizar crédito imobiliário em parceria com bancos de varejo, incorporadoras e investidores. A aposta é no crédito imobiliário.