Título: Blindagem por Dilma
Autor: Iunes, Ivan
Fonte: Correio Braziliense, 18/01/2011, Política, p. 3

Operação para garantir eleição de Maia tem como meta preservar a presidente

O esforço do Palácio do Planalto para ungir Marco Maia (PT-RS) candidato único petista à Presidência da Câmara tem como principal componente o receio de que uma disputa acirrada contaminasse o parlamento no primeiro ano da gestão Dilma Rousseff. Desde que João Paulo Cunha (PT-SP) foi eleito presidente sem concorrentes, em 2003, a Câmara não assiste à eleição de um candidato único. Em três oportunidades, o eleito sequer pertencia ao partido com maior bancada.

Desde o fenômeno Severino Cavalcanti (PP-PE), o governo sempre tentou unir a base aliada em torno de um candidato ¿ sem sucesso. O parlamentar pepista conseguiu chegar à Presidência se aproveitando de um racha no PT e do auxílio da oposição, mesmo sem que o PP tivesse uma das maiores bancadas da Câmara. A eleição de Cavalcanti desrespeitou o princípio da proporcionalidade partidária, segundo o qual a maior bancada elege o presidente do parlamento (veja quadro).

A partir de Cavalcanti, Aldo Rebelo (PCdoB-SP) e Arlindo Chinaglia (PT-SP) também se elegeram mesmo sem pertencer à maior bancada. Rebelo foi escolhido diretamente pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2005, temeroso de um novo racha no PT. Já Chinaglia conseguiu a eleição por um acordo com o PMDB, que tinha o maior número de deputados em 2007.

A própria oposição, que elegeu Cavalcanti, entende que a quebra do princípio da proporcionalidade acabou por enfraquecer o Legislativo. ¿Toda vez que somos incapazes de resolver os problemas internamente, abrimos espaço para a entrada do Executivo e ficamos comprometidos, devedores.

Apoiamos a proporcionalidade para conseguirmos autonomia¿, defende o líder do PSDB, João Almeida (BA).

Inocêncio Caso o quadro atual se confirme, um personagem terminará 2013 com a marca de 10 anos seguidos com presença nos cargos de destaque da Câmara. Presidente da Casa entre 1993 e 1995, Inocêncio de Oliveira (PR-PE) acabou fora da Mesa em 2001, quando perdeu a disputa pela Presidência para Aécio Neves (PSDB-MG). Dois anos depois, retornou na condição de 1º vice. Para permanecer nos cargos de direção, trocou de partido duas vezes. Agora, garante a aliados que ficará com a Terceira Secretaria.

MEMÓRIA

Acordos e turbulências 2003 O deputado João Paulo Cunha (PT-SP) foi eleito presidente da Câmara como candidato único ao posto. Recebeu 434 votos em um amplo acordo partidário. Ao assumir, pediu urgência na definição do ritmo de tramitação das reformas previdenciária, tributária e política ¿ apenas a primeira seria concluída em sua gestão. Inocêncio de Oliveira, então no PFL-BA, foi eleito para a Primeira Vice-Presidência.

2005 A chamada noite dos severinos, na madrugada de 15 de fevereiro, trouxe o resultado mais surpreendente em eleições internas da Câmara. O maior partido, o PT, rachado entre Luiz Eduardo Greenhalgh e Virgílio Guimarães, perdeu a Presidência para Severino Cavalcanti (PP-PE) e ainda ficou sem cargo algum na Mesa Diretora. Inocêncio de Oliveira, já no PMDB-PE, ficou com a Primeira Secretaria.

2005 Com a renúncia de Cavalcanti, a Câmara teve nova eleição em 28 de setembro. O PT, ainda rachado, decidiu reforçar a campanha de um aliado, Aldo Rebelo (PCdoB-SP). O comunista acabou eleito em disputa apertada contra José Thomaz Nonô (PFL-AL). A vitória veio por 15 votos de diferença. Inocêncio seguiu no posto.

2007 Arlindo Chinaglia (PT-SP) reorganizou a legenda e acabou eleito na disputa contra Gustavo Fruet (PSDB-PR) e Rebelo, que tentava a reeleição. Inocêncio de Oliveira, no PL-PE, se elegeu segundo Vice-Presidente.

2009 Cumprindo acordo entre os dois partidos, os petistas descarregaram os votos no peemedebista Michel Temer (SP). O deputado paulista venceu a disputa contra Rebelo e Ciro Nogueira (PP-PI). Agora no PR (sucessor do PL), Inocêncio de Oliveira foi eleito para a Segunda Secretaria.