Título: Lula diz que vai se licenciar para fazer campanha de seu sucessor
Autor: Lyra , Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 04/10/2007, Política, p. A6

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva informou, durante jantar com líderes aliados da Câmara, na noite de terça-feira, que deve se licenciar do cargo, em 2010, para ajudar na campanha para eleição do seu sucessor. É a primeira vez que Lula explicita essa possibilidade. Segundo parlamentares presentes ao jantar, realizado no Palácio da Alvorada, Lula condicionou essa licença, porém, a uma série de condições, entre elas a existência de um candidato único da base e a permanência dos resultados positivos de seu governo, tanto no campo social quanto na área econômica.

O presidente, diante dos seus líderes, provocou o governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), citado em uma lista como beneficiário de R$ 110 mil do mensalão mineiro. "E o Aécio, hein? Querendo dizer que não tem nada a ver com isso, que está distante do caso, querendo jogar tudo nas costas do Azeredo"... (senador Eduardo Azeredo, candidato à reeleição para o governo de Minas naquele ano)".

Ao citar o mensalão mineiro, Lula defendeu seu ministro da coordenação política, Walfrido dos Mares Guia, apontado pela Polícia Federal como um dos operadores do esquema de caixa 2. "Tem gente, como Ibsen Pinheiro (PMDB-RS) e João Paulo Cunha (PT-SP) que se abate com massacres via imprensa. Walfrido, não. Ele tem trabalhado dobrado, tem apresentado sua defesa ao procurador-geral e ainda articulado a base para aprovar as matérias de interesse do Planalto", disse Lula.

Walfrido negou que o presidente tenha insinuado a possibilidade de pedir licença do cargo. Mas deputados da coalizão que estavam no encontro frisam que o presidente chegou a fazer charme diante dos aliados". "Isso, claro, se alguém quiser me chamar para ajudar na campanha", brincou. A estratégia de Lula é mais uma tentativa de buscar a unidade e coesão da base até 2010. Ele sabe que, fora da disputa direta pela cadeira de presidente, torna-se um cabo eleitoral extremamente forte. Também já foi informado que PT, PSB e PMDB lutam para lançar candidatos "ungidos" pelo Planalto.

Lula tentou unificar os aliados também nas eleições municipais do ano que vem, mas disse que já jogou a toalha. Há pouco mais de um mês, ao término de uma das reuniões do Conselho Político, o presidente pediu aos governistas que tentassem, pelo menos nas capitais e cidades maiores, evitar confrontos entre candidatos de partidos da coalizão.

O PT já avisou que, onde tiver condições eleitorais, lançará cabeças de chapa nas eleições municipais. O bloco de esquerda, composto por PCdoB, PSB, PDT e outras legendas menores, informou ao presidente que as disparidades regionais impedem a realização desta união. Ciente disso, Lula avisou aos deputados que, no primeiro turno das eleições municipais de 2008, não subirá em palanques de candidatos de partidos da coalizão. "Eu só subirei em palanques no segundo turno, assim mesmo se houver um candidato da base contra um candidato da oposição", avisou Lula.

Vice-líder do governo na Câmara, Beto Albuquerque (PSB-RS) prevê tempestades políticas no ano que vem. "Eleições municipais sempre devolvem a Brasília vitoriosos e ressentidos".