Título: CPI das Ongs será presidida pelo DEM
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 04/10/2007, Política, p. A10

A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) encarregada de apurar a liberação de recursos públicos para organizações não governamentais (ONGs) e para organizações da sociedade civil de interesse público (OSCIPs), no período de 1999 até 2006, foi instalada ontem, quase um ano depois da apresentação do requerimento propondo sua criação, pelo senador Heráclito Fortes (DEM-PI).

O relator será Inácio Arruda (PCdoB-CE). A designação, no entanto, não pôde ser feita ontem, por causa dos protestos de Valter Pereira (PMDB-MS), que tinha o compromisso do líder do seu partido, Valdir Raupp (RR), de que ocuparia a função. O presidente da CPI é Raimundo Colombo (DEM-SC), ex-prefeito de Lages, ex-deputado federal e ex-deputado estadual e presidente do DEM de Santa Catarina. É ligado ao ex-senador e ex-presidente do DEM Jorge Bornhausen.

Considerado independente e imprevisível, Valter Pereira teve sua indicação barrada por governistas, preocupados com a condução das investigações. Inconformado, o pemedebista atribuiu ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva o veto a seu nome. Em conversa com colegas, ameaçou sair do PMDB. À imprensa, descartou trocar de legenda, mas disse que irá "reavaliar" sua postura em relação ao governo.

"O líder (Valdir Raupp) me confirmou que o presidente da República fez veemente apelo a ele para evitar que eu fosse indicado", disse Pereira. Ele foi anfitrião do jantar que reuniu senadores do PMDB insatisfeitos com o tratamento recebido pelo governo. Foi porta-voz do grupo, responsável pela rebelião que resultou na derrubada da medida provisória que criou a Secretaria de Planejamento de Longo Prazo da Presidência da República.

Pereira foi informado de que não seria relator da CPI das ONGs em jantar na véspera, na casa de Raupp, que reuniu quase toda a bancada do partido. Estava presente o presidente do Senado, Renan Calheiros (AL). Estavam ausentes os senadores pemedebistas que fazem oposição ao governo Lula.

Inácio Arruda, único senador do PC do B, é tido como um parlamentar mais comprometido com o governo e com menos preocupação em atrair para si os holofotes. Durante o processo por quebra de decoro contra Renan, defendeu, em pronunciamentos, que o Senado não se dobrasse às pressões da opinião pública.

Heráclito Fortes propôs a criação da CPI por causa de denúncias envolvendo ONGs em campanhas eleitorais nas eleições de 2006. Um dos episódios foi o envolvimento de Jorge Lorenzetti, amigo e ex-assessor de Lula, na compra de um dossiê para incriminar tucanos. Ele é ligado à ONG Unitrabalho, que teria recebido R$ 18,5 milhões da União desde o início do governo petista.

A revista "Veja", na última edição, publicou reportagem vinculando a líder do PT, Ideli Salvatti (SC), à Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar da Região Sul (Fetraf-Sul), acusada de supostas fraudes. A petista atribuiu a denúncia a disputas políticas e partidárias.

Em prazo de 120 dias, a CPI deverá investigar a utilização dos recursos recebidos pelas entidades do exterior. Haverá tentativa dos senadores de estender o prazo para 2007. Dos 11 integrantes da comissão, seis são governistas. (RU)