Título: Santos ,Chico
Autor: Santos , Chico
Fonte: Valor Econômico, 04/10/2007, Empresas, p. B6

A Companhia Vale do Rio Doce e a gigante chinesa Baosteel Corp. estão procurando um sócio financeiro para completar a composição acionária da Companhia Siderúrgica Vitória (CSV), criada ontem para construir no município de Anchieta (ES), a 80 quilômetros da capital Vitória, uma usina de placas de aço com capacidade para 5 milhões de toneladas por ano. O investimento total estimado pelo presidente da Vale, Roger Agnelli, é de cerca de US$ 4 bilhões. A empresa criada ontem tem 60% de participação chinesa e 40% brasileira, mas a expectativa da Vale é de que esse formato permaneça apenas até o término do estudo de viabilidade econômica, no primeiro semestre de 2008.

Segundo José Carlos Martins, diretor de Ferrosos da Vale, os dois sócios estão conversando com potenciais parceiros, que pode ser o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) ou o seu similar chinês. O BNDES poderá participar do projeto seja como acionista ou como financiador, conforme intenção dos sócios da CSV. Como financiador, o empréstimo será balizado pelo índice de nacionalização do projeto, conforme admitiu Martins.

O diretor de Participações Siderúrgicas da Vale, James Pessoa, disse que os investimentos no formato atual da sociedade não devem passar de US$ 30 milhões. Depois disso, a Vale deverá ficar com apenas 20%. Mas Pessoa ressaltou que a intenção da Baosteel de ficar com apenas 60% não chega a ser um limitador para o andamento normal do cronograma do projeto.

Ontem, em Vitória, foram inauguradas as instalações do escritório da CSV, onde devem trabalhar cerca de 60 pessoas, entre chineses e brasileiros. Projetada para uma capacidade inicial de 5 milhões toneladas a partir do final de 2011 ou início de 2012, a usina, segundo Martins, poderá duplicar a capacidade em uma ou duas etapas. O presidente do conselho de administração da Baosteel, Xu Lejiang, disse que a produção será exportada para a Europa, Estados Unidos e China, podendo a empresa fornecer também placas para o mercado interno.

Xu lembrou que a gestação da CSV demorou cinco anos. A localização original da usina era o Maranhão, na área do porto e Ponta da Madeira, mas divergências entre os sócios e o governo maranhense sobre o local da construção da siderúrgica levaram à transferência do projeto para o Espírito Santo, local que oferecia também condições para operar um porto com a profundidade necessária ao projeto.

O complexo da CSV terá, além da própria usina, um porto de águas profundas (pelo menos 23 metros) e uma ferrovia de 160 quilômetros, ligando a região de Anchieta à Estrada de Ferro Vitória-Minas. Segundo Agnelli, o porto deverá custar aproximadamente US$ 500 milhões e a ferrovia, US$ 400 milhões, o que eleva o custo total do projeto a cerca de US$ 5 bilhões ou mais dependendo da dinâmica do câmbio. Agnelli disse que o porto e a Ferrovia Litorânea Sul deverão estar prontos em três anos, antes do início das operações da siderúrgica.

Além disso, a CSV terá dentro do seu complexo uma usina termelétrica com capacidade para gerar, a partir dos gases da coqueria, 400 megawatts de potência. Como o consumo da siderúrgica está estimado em 200 megawatts, ela deverá dispor de outros 200 megawatts para fornecer ao mercado. Na semana passada, o Espírito Santo sofreu um apagão que paralisou as oito usinas de pelotização de minério da Vale no complexo de Tubarão, região metropolitana de Vitória. O governador do Estado, Paulo Hartung (PMDB), disse ontem que o acidente foi gerado por fatores externos ao Estado.

Agnelli disse que a escolha do Espírito Santo foi determinada pelas condições de infra-estrutura e logística oferecidas pelo Estado, além da existência de "regras estáveis". O governador Paulo Hartung disse que não há nenhum incentivo especial além das regras normais para a atração de investimentos pelo Estado. Na semana passada, o secretário de Desenvolvimento Econômico do Espírito Santo, Guilherme Dias, disse ao Valor que eventuais incentivos só seriam negociados após a formação da empresa.

O pólo de Anchieta, onde será construída a usina da CSV, deverá tornar-se um complexo industrial semelhante ao de Tubarão, onde, além das oito pelotizadoras da Vale (em sociedades), há a siderúrgica Arcelor-Mittal Tubarão (antiga CST) e dois portos de águas profundas. Em Anchieta já operam duas pelotizadoras da Samarco (50% Vale e 50% BHP Billiton), uma outra em construção e outras duas em estudos. Lá também a Petrobras pretende construir uma base operacional para apoio à exploração e produção de petróleo no mar. A região conta com porto Ponta de Ubu, da Samarco.