Título: Ciro Gomes diz que não se desfilia do PPS
Autor: Thiago Vitale Jayme
Fonte: Valor Econômico, 31/01/2005, Política, p. A5

O PPS tem hoje o dia mais importante dos últimos anos de sua história. À meia noite, terminará o prazo dado pela direção do partido aos filiados integrantes do governo para deixarem os cargos. Caso contrário, seriam expulsos da legenda. O ultimato foi feito depois de o PPS anunciar oficialmente a saída da base governista para adotar posição de independência. Como pano de fundo da questão partidária, está a briga política entre o deputado federal e presidente do PPS, Roberto Freire (PE) e o ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes (CE). Apesar do término do prazo, há expectativa de ser adotada uma saída alternativa e Ciro continuar tanto no governo quanto no partido. Um acerto costurado pelos deputados federais Nelson Proença (RS), Denise Frossard (RJ), Raul Jungmann (PE), Fernando Coruja (SC) e Cezar Silvestre (PR) abre espaço para o meio termo. Há algumas semanas, os parlamentares propuseram a possibilidade de Ciro continuar à frente da Integração Nacional - ou de outra pasta, de acordo com o desfecho da reforma ministerial - e se afastar de suas funções partidárias. Uma espécie de licença. A idéia foi discutida há algumas semanas com os dois caciques no mesmo dia. Primeiro, os deputados encontraram-se com Ciro no apartamento do ex-candidato à Presidência na Academia de Tênis, em Brasília. Depois almoçaram com Freire. Os parlamentares garantem que a idéia teria sido aceita por ambos. Além de defenderem a importância de os dois líderes continuarem dentro do partido, os deputados lembraram que o PPS já viveu situação semelhante durante o governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB). O hoje deputado Raul Jungmann foi ministro do Desenvolvimento Agrário e presidente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) durante a administração tucana. Na época, já filiado ao PPS - que fazia oposição ao governo -, foi afastado das funções partidárias para manter-se nos cargos. A figura do afastamento político não consta no regimento interno do partido, mas é uma interpretação possível, acreditam os cinco deputados. Assessores próximos de Ciro não apostam fichas na saída negociada e aguardam a movimentação de Freire. O presidente do partido está no Chile e pode enviar à Justiça Eleitoral ofícios comunicando o afastamento dos integrantes do partido. Os assessores adiantaram que o ministro não entrega o cargo e não vai se desfiliar do partido. O entendimento sobre o afastamento de Ciro, sem desfiliação, vale também para outros integrantes do PPS no governo. Além de Ciro, ocupam cargos importantes Mércio Gomes, presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), e o deputado Clementino Coelho, diretor da Companhia do Vale do São Francisco (Codevasf). A ex-mulher de Ciro e senadora Patrícia Saboya Gomes (PPS) é vice-líder do governo no Senado e deve sofrer a mesma sanção.