Título: Produção industrial bate recorde
Autor: Durão, Vera Saav ; Rosas,Rafael
Fonte: Valor Econômico, 05/10/2007, Brasil, p. A3

A produção da indústria brasileira apresentou forte dinamismo em agosto e cresceu 1,3% na comparação com julho, 6,6% em relação a igual período de 2006 , 5,3% no acumulado do ano e 4,5% na taxa anualizada. Os dados divulgados ontem, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ficaram bem acima das expectativas de institutos de pesquisas, bancos e consultorias, atingindo nível recorde de produção na maioria dos 27 ramos pesquisados, o que não ocorria desde 2004, disse Sílvio Sales, coordenador de indústria do IBGE.

"A tendência para os próximos meses do ano é de manutenção do aquecimento da indústria , que costuma ser impulsionado pelas vendas de fim de ano", ressaltou Sales, que não vê risco de problema de pressão de preços na economia por restrição de produção. O IBGE trabalha com crescimento da indústria de 5,6% no ano, mantido o ritmo de agosto.

O bom desempenho da indústria, liderado pelo setor de bens de capital, que no ano cresceu 17,6%, seguido pelos bens de consumo duráveis, com expansão de 6,9% até agosto, dividiu economistas em relação ao grau de pressão da demanda interna sobre o aquecimento da atividade econômica, que, para a maioria, poderá levar o Banco Central a sustar a trajetória de queda dos juros na próxima reunião do Copom por temer uma disparada da inflação.

Fábio Silveira, da RC Consultores, e Antonio Licha, do grupo de Conjuntura do Instituto de Economia da UFRJ, se posicionaram favoráveis a mais um corte de 0,25% na Selic, por considerarem que a demanda realmente vem pressionando a indústria, mas não há no horizonte ameaça imediata de que este consumo possa se traduzir no curto prazo em inflação de demanda. Para Licha, a economia brasileira vive essa incerteza, mas acredita que isso somente poderá acontecer no segundo semestre do ano que vem, caso as importações não consigam preencher o hiato de 1,5% entre o crescimento do PIB, de 5% este ano, e uma expansão prevista de 6,5% na demanda interna para 2007.

Silveira acha que não há como se ter inflação de demanda em proporções relevantes numa economia aberta como a brasileira. "Com uma taxa de câmbio tendendo a R$ 1,80 e R$ 1,90, está havendo um ajuste entre oferta e demanda via importação". Até agosto, o valor das importações cresceu 28% ante o mesmo período do ano passado.

Elson Teles, da Concórdia Corretora, revelou que os dados do IBGE levaram o mercado a ficar mais pessimista e dividido em relação à próxima reunião do Copom. "O dado forte da produção industrial confirmou que a demanda está muito aquecida. A pesquisa divulgada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostrou que o nível de utilização da capacidade instalada (Nuci) das fábricas (83,2%) está em patamares recordes. O IGP-DI registrou desaceleração, mas tem muita pressão no atacado, sem falar numa alta de 5% no preço do cimento, mostrando que há um problema na oferta que pode gerar pressão inflacionária. Acho que este cenário está fortalecendo a posição do BC de sustar a queda do juro", avalia.

O boletim da consultoria Rosenberg & Associados aviva o debate, ao reconhecer que a pesquisa de agosto, do IBGE, mostra um quadro bastante positivo para a indústria nacional, com a produção se expandindo em ritmo acelerado, mas não vê riscos de explosão da capacidade instalada, porque a liderança do crescimento é do setor de bens de capital.

Os economistas da Rosenberg enfatizam, porém, que, em termos de política monetária, o resultado da produção da indústria vai requerer "cautela do Banco Central". Nos cálculos da consultoria, a contribuição da demanda interna na expansão das fábricas em agosto foi de 7,08 pontos percentuais na comparação com igual mês do ano passado, ante 0,66 ponto percentual de contribuição do setor externo.

A expansão da produção da indústria atingiu a maioria dos 27 segmentos industriais pesquisados pelo IBGE. Na comparação com igual mês do ano passado, os automóveis lideraram com 17,5% de alta e máquinas e equipamentos com 18,2%, mais equipamentos de transporte (24,5%). No período, entre as categorias de uso, os bens de capital reforçaram sua liderança, crescendo 21%, puxados por máquinas agrícolas, com aumento de 100,8%, reforçando a tendência de recuperação da agricultura este ano.

Os bens duráveis cresceram 13%, sustentados por automóveis (11%), celulares (20,6%), eletrodomésticos (12,7%) e motos ( 22,6%), que respondem basicamente a uma demanda interna significativa favorecida pelo crédito em expansão e o aumento da massa salarial, que, segundo previsão de Antonio Licha, pode crescer 9% este ano (6% por aumento salarial e 3% por aumento do emprego).

Os semiduráveis e não-duráveis continuam se expandindo abaixo da média de crescimento da produção industrial, avançando 4,2% na comparação mensal e 4,2% no acumulado do ano. Para a consultoria Austin Rating, o fato revela que os salários não estão puxando a demanda, o que afasta o fantasma da alta inflação. (*Do Valor Online, do Rio)