Título: Indústria perde contratos nos EUA e exportação cai
Autor: Landim , Raquel
Fonte: Valor Econômico, 05/10/2007, Brasil, p. A6

Oswaldo Oliveira, diretor da Valisére: "Os varejistas americanos exigem alta qualidade, grandes volumes e preço baixo" Em abril, o grupo Rosset embarcou o último lote dos 500 mil maiôs e biquínis que vendeu para a Gap Body. A empresa perdeu o contrato para fabricar, com design e marca da Gap, os maiôs que a varejista vende em mais de 500 lojas nos Estados Unidos. Na próxima coleção, as peças serão feitas na China e no Marrocos, que ficou ainda mais competitivo após selar um acordo de livre comércio com os EUA no setor têxtil. O grupo Rosset é um dos maiores conglomerados têxteis do Brasil e, na confecção, atua com as marcas Valisère e Companhia Marítima.

Segundo Oswaldo Oliveira, diretor da Valisère, esse foi o último de uma série de contratos com grandes varejistas americanos encerrados nos últimos meses. A lista inclui nomes como Target e Victoria Secret. Por isso, a participação das exportações nas vendas totais da área de confecção caiu de 35% para 12% em três anos, o que culminou com a demissão de um terço dos 3 mil funcionários. "Os Estados Unidos foram um mercado importante para nós. Só que os varejistas exigem alta qualidade, grandes volumes e preço baixo", diz Oliveira.

O grupo Rosset está longe de ser uma exceção. As exportações brasileiras de produtos manufaturados para os Estados Unidos caíram 5,8% de janeiro a agosto em comparação com igual período do ano anterior. Os manufaturados representam mais de 60% das vendas para o mercado americano. Já os produtos básicos, cuja participação é de 17,5%, tiveram excelente desempenho com alta de 48% no mesmo período, graças as vendas de petróleo e de suco de laranja.

Os manufaturados são mais sensíveis à valorização do real ante o dólar, que saiu de R$ 2,3 no fim de 2005 para os atuais R$ 1,80. As incertezas sobre a economia americana provocaram queda generalizada do dólar ante outras moedas. O real foi uma das que mais se valorizou, em parte pelo fluxo de capitais atraídos pelas altas taxas de juros do Brasil. Nessa conjuntura, os exportadores reajustaram preços, o que é fatal em um mercado tão competitivo quanto o americano. A crise nos EUA também arrefeceu a demanda por importações, principalmente em setores ligados à construção civil.

A queda nas vendas de manufaturados começa a afetar os dados gerais da exportação brasileira para a maior economia do mundo. De janeiro a setembro, na comparação pela média diária com igual período do ano anterior, as exportações do Brasil para os Estados Unidos caíram 0,4%, enquanto as vendas totais do país subiram 15%, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento. As vendas para os EUA atingiram US$ 18,6 bilhões e o país ainda é o principal destino dos embarques do Brasil, mas a participação no total das exportações brasileiras caiu de 18,4% nos primeiros nove meses de 2006 para 15,9% em igual período desse ano.

A queda nas vendas para os EUA ainda é marginal, mas, caso se consolide esse ano ou em 2008, pode ser o primeiro recuo desde 1995. Nos últimos 11 anos, as vendas do Brasil para os EUA cresceram continuamente para um recorde de US$ 24,4 bilhões em 2006. Os empresários relatam, no entanto, que os melhores anos para as exportações foram 2003, 2004, 2005. Em 2006, a perda de fôlego já era visível. As exportações de produtos brasileiros para o mercado americano aumentaram 20% em 2004, 12% em 2005 e 9,8% em 2006 sempre em relação a igual período do ano anterior. Na comparação mês a mês, as exportações para os Estados Unidos estão em queda desde julho desse ano.

O período de valorização do real já é longo o suficiente para afetar inclusive os setores que trabalham com contratos de médio e longo prazo. Conforme levantamento feito pela Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex), a pedido do Valor, as exportações para os Estados Unidos de veículos, peças e máquinas e tratores cederam, respectivamente, 33%, 16% e 13%, de janeiro a agosto desse ano comparado com janeiro a agosto de 2006.

As vendas de tratores Massey Ferguson, fabricados pela AGCO do Brasil, para os Estados Unidos recuaram de 3,5 mil unidades em 2004 e 2005 para 2,2 mil unidades esse ano. "Estamos vendendo menos e é um mercado que alguém tomou", diz Francisco Delamare, gerente de exportação da Massey Ferguson. Segundo ele, a presença de concorrentes mexicanos, indianos e chineses é cada vez mais forte nos EUA.

O executivo ressalta que a valorização do dólar permitiu que tratores de China e Índia chegassem também nos mercados da América Latina, antes dominados pelo Brasil. A Massey Ferguson ainda atua com vigor no mercado externo, para onde destina 50% da produção, mas esse percentual chegou a ser de 60% há alguns anos. "O Brasil está desaparecendo como competidor internacional", diz Delamare.

Os setores que mais sofrem são os intensivos em mão-de-obra, porque são muito sensíveis à valorização do câmbio e focados no mercado americano. De acordo com a Funcex, as exportações brasileiras de móveis para os Estados Unidos caíram 23% nos primeiros oito meses do ano em relação ao mesmo período de 2006. Em calçados, a queda foi de 9,6% no período. Os fabricantes de tecidos ainda conseguiram elevar a receita obtida nos EUA em 6%, mas as exportações das confecções, que empregam o maior contingente de pessoas nesse setor, caíram 15%.

Fabricante de produtos de cama, mesa e banho, a Teka deve exportar US$ 38 milhões para os EUA esse ano, ou 25% da produção. Em 2006, chegava a 40%. "Fizemos embarques para os americanos com prejuízo", diz Marcelo Stewers, diretor de exportação da Teka. "Estamos tentando exportar para os EUA produtos de maior valor agregado, porque os preços estão achatados por conta da concorrência asiática".