Título: Câmbio também afeta embarques de multinacionais
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 05/10/2007, Brasil, p. A6

As filiais brasileiras das multinacionais estão perdendo espaço no mercado dos Estados Unidos. A valorização do real atinge tão duramente as empresas que a concorrência não é apenas com unidades na China ou na Índia, países com baixíssimo custo de mão-de-obra, mas também com o México e até com unidades dentro dos EUA.

A fabricante de autopeças Robert Bosch reduziu as exportações para os Estados Unidos de US$ 800 milhões em 2005 para US$ 500 milhões nesse ano. Segundo Edgar Silva Garbade, presidente da empresa, as vendas para esse destino devem seguir em queda em 2008. A filial brasileira sofre com a concorrência da unidade da Bosch no México. "Os mexicanos ganharam muito com a valorização do real. A disputa está muito forte", diz.

Os EUA eram o principal cliente da empresa e chegaram a representar 20% das exportações. Hoje esse percentual caiu para 13%. De acordo com Garbade, a Bosch compensa o espaço perdido nos EUA com vendas para América do Sul, Europa e para o mercado interno, que está crescendo bastante.

Suely Agostinho, diretora de assuntos corporativos da Caterpillar, conta que a filial brasileira perdeu contratos para as unidades localizadas dentro dos Estados Unidos. A empresa produz máquinas para construção civil. "O mercado americano foi importante para nós", diz a executiva, enfatizando o verbo no passado. Suely não revela o percentual, mas diz que as exportações para os EUA caíram por conta da valorização do real, que afetou a competitividade do Brasil, e da desaceleração da economia americana, que enfrenta uma crise.

A filial brasileira da Caterpillar, que exporta para 120 países, busca minimizar as perdas nos Estados Unidos com maiores vendas para América Latina e para a Europa. Suely diz que o mercado brasileiro, que está salvando muitos setores, ainda não reagiu para máquinas e equipamentos. "O mercado interno está fraco, porque os investimentos não deslancharam. O PAC [Programa de Aceleração do Crescimento] não saiu do papel", diz.

Suely ressalta a importância de boas condições macroeconômicos para que um país se mantenha competitivo no mercado internacional. "Nas organizações globais, a disputa está mais acirrada dentro da empresa do que com os concorrentes", diz. A Caterpillar possui 109 fábricas ao redor do mundo.

As vendas de produtos de alta tecnologia também estão em queda. De acordo com levantamento feito pela Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex), as exportações de equipamentos eletrônicos para os EUA recuaram 44% de janeiro a agosto desse ano na comparação com igual período em 2006.

Boa parte dessa queda está relacionada com a decisão da fabricantes de celulares Motorola de interromper os embarques para o mercado americano. Segundo a assessoria de imprensa da empresa, isso ocorreu em função do forte crescimento do mercado local e latino-americano. Para atender a explosão de consumo na região, a empresa investiu e ampliou em 40% a capacidade da fábrica de Jaguariúna (SP). De janeiro a julho, a Motorola exportou US$ 631 milhões. (RL)