Título: Eleição no Iraque tem alta participação
Autor: Agências internacionais
Fonte: Valor Econômico, 31/01/2005, Internacional, p. A7

A eleição no Iraque foi marcada ontem pelo alto comparecimento dos eleitores (60%), principalmente os xiitas e curdos, e pelos atentados que deixaram ao menos 30 mortos - algumas fontes falam em até 36 mortos. O comparecimento foi acima do esperado e pode dar à Assembléia eleita legitimidade para levar a cabo a transição de soberania no país. Os ataques de grupos que resistem à ocupação americana, entretanto, são uma indicação de que essa transição não será fácil. Outro fator a considerar no futuro do país é um eventual agravamento das tensões internas por causa da perda de poder político por parte da minoria sunita. O presidente dos EUA, George W. Bush, disse que a votação no Iraque foi um "enorme sucesso": "Ao participar de eleições livres, o povo iraquiano rejeitou firmemente a ideologia antidemocrática dos terroristas. Ele se recusou a ser intimidado por bandidos e assassinos". Já o primeiro-ministro do Reino Unido, Tony Blair, afirmou que o pleito foi um "golpe para o terrorismo internacional". Os resultados podem demorar até dez dias para sair, segundo a Comissão Eleitoral Iraquiana. A CEI estima que cerca de 8 milhões (de um total de 14,2 milhões de eleitores votaram. Na áreas xiitas e curdas do Iraque as filas foram longas e a participação chegou a 90% e 80% respectivamente, segundo estimativas não-oficiais divulgadas pelas agências de notícias internacionais. Com isso, espera-se que sejam confirmadas as previsões de que a Aliança dos Iraquianos Unidos (AIU), composta por partidários do aiatolá Ali Sistani, mais respeitado clérigo xiita do país, fique com a maioria na Assembléia Nacional de 275 representantes. É provável que a AIU se alie ao atual premiê interino, Iyad Allawi, que lidera um partido xiita secular. Em muitas das localidades de maioria sunita no país, porém, a participação dos eleitores foi prejudicada por surtos de violência, ameaças e boicotes. Nas cidades de maioria sunita como Samarra, Fallujah e Ramadi, a participação foi tão fraca que diversos postos de votação permaneceram fechados. Segundo o ex-presidente do Conselho de Governo Iraquiano e líder político sunita, Adnan Pachachi, a participação dos eleitores sunitas em Bagdá até superou inicialmente esperado. Mas foi na capital do país que os ataques se concentraram. Nove ataques suicidas atingiram postos de votação pela cidade. O grupo do terrorista jordaniano Abu Musab al Zarqawi, que é ligado à Al-Qaeda [de Osama bin Laden], reivindicou pela internet a autoria dos ataques. O Pentágono oferece US$ 25 milhões pela captura de Al Zarqawi. O premiê interino do Iraque, Iyad Allawi, disse que "este é um momento histórico para o país e um dia em que os iraquianos podem erguer suas cabeças porque estão desafiando os terroristas e começando a escrever o futuro com as próprias mãos". O canadense Jean-Pierre Kingsley, que comanda a Justiça Eleitoral do Canadá e lidera uma equipe internacional de observadores, disse que a eleição ocorreu de modo geral de acordo com as normas internacionais. "É certo que, como um ponto de partida, considerando a situação anterior, o processo foi muito bom", disse Kingsley.