Título: Pressões crescem e G-20 busca aliados
Autor: Moreira , Assis
Fonte: Valor Econômico, 05/10/2007, Brasil, p. A7

Susan Schwab, representante comercial dos EUA: " Lamentavelmente, principais países não demonstraram intenções" O confronto tende a crescer nas negociações da Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC), jogando mais dúvidas sobre um futuro acordo. Brasil e outros emergentes, de um lado, e os EUA e outros industrializados, de outro, são os atores dessa disputa. O Brasil, na liderança do G-20, e os grupos em desenvolvimento, representando mais de 70 países, articulam um forte comunicado para reclamar do "total desequilíbrio" entre os textos agrícola e industrial que Washington quer como a base para o acordo final.

Isso ocorre ao mesmo tempo em que a representante comercial dos EUA, Susan Schwab, advertiu ontem que só existem duas respostas dos emergentes - "sim ou não" - aos textos que estão na mesa de negociação. Mas representantes de nações em desenvolvimento acusam os EUA de demonstrarem "aceitação seletiva" do texto agrícola, enquanto exigem "aceitação incondicional" do texto industrial por parte de países como Brasil, Argentina e África do Sul. "O texto agrícola procura acomodar as sensibilidades de todos, enquanto o texto industrial não preserva sensibilidade de ninguém", aponta um dos mais importantes negociadores do G-20.

As articulações para uma grande aliança de nações em desenvolvimento já vinham ocorrendo desde agosto, mas tomam nova dimensão diante da pressão adicional colocada por Schwab, em artigo assinado ontem no jornal "Financial Times". "Lamentavelmente, a maioria dos principais países não demonstrou suas intenções", escreveu. "Pior ainda, alguns sinalizaram sua má vontade em negociar nas faixas dos textos ou o desejo de anular compromissos de abertura comercial através de escapatórias." Para Schwab, não há mais espaço para tergiversar. "Sim, mas"' ou "seremos flexíveis" ou "você primeiro" não são mais respostas para levar Doha à conclusão", avisou.

Para vários membros do G-20, os EUA adotam a estratégia de jogar a culpa nos outros pelo eventual fiasco da negociação. Um negociador acusou Washington de "falácia" quando fala que aceitou o texto agrícola. Isso porque os EUA admitem negociar a limitação de seus subsídios agrícolas na faixa entre US$ 13 bilhões e US$ 16,4 bilhões, mas recusam outras propostas do mediador da negociação.

Os EUA não aceitam, por exemplo, proposta para cortar mais rapidamente os subsídios para algodão. Tambem rejeitam o período-base do mediador para fixar limites de subvenção por commodity. Mesmo a cifra de US$ 13 bilhões para os subsídios significa pouco ou nada, sem disciplinas e monitoramento para as subvenções.

Em contrapartida, a administração Bush exige que Brasil, Índia, Argentina, África do Sul e outros aceitem totalmente o texto industrial com cortes de 55% a 60% e com as flexibilidades já desenhadas pelo mediador para proteger certos setores industriais.

"Os EUA tentam jogar os problemas da rodada sobre uns seis países - incluindo o Brasil. Ora, é justamente o contrário, são uns seis países que não têm problemas, porque todos os outros têm dificuldades com esse texto industrial", completou um negociador do G-20. De fato, Susan Schwab destacou que México, Chile e Cingapura, por exemplo, já aceitaram os textos na mesa de negociação. Só que esses países vão cortar pouco as tarifas, alegam negociadores.

A resposta do Brasil, Argentina, África do Sul e os outros membros do Grupo Nama 11, para a negociação industrial, também deverá vir com um comunicado separado ao mediador da negociação.

O grupo insiste que, para haver a dimensão do desenvolvimento da Rodada Doha, os industrializados precisam cortar bem mais tarifas que os emergentes. Além disso, é preciso definir percentuais de corte e só depois discutir coeficientes da fórmula. E quer flexibilidades que levem em conta situações específicas de uniões aduaneiras como o Mercosul, onde há clara diferença entre os problemas industriais do Brasil e Paraguai.