Título: Grupo de economistas e sindicalistas rompe com o PT
Autor: Daniela Chiaretti
Fonte: Valor Econômico, 31/01/2005, Internacional, p. A7

Às vésperas de completar 25 anos, em 10 de fevereiro, o PT sofreu um duro golpe durante a quinta edição do Fórum Social Mundial (FSM) com a desfiliação em bloco de cerca de 110 militantes, a maior parte economistas e sindicalistas de longa data no partido. O grupo promoveu um ato no fim da tarde de sábado, na delegacia do Sindicato Nacional dos Auditores da Receita Federal (Unafisco), quando distribuiu um documento onde afirma que, ao abandonar as bandeiras históricas do partido, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva "transforma o dia-a-dia do governo numa grande falácia". Ao mesmo tempo, mais de 350 militantes independentes e ligados às correntes Articulação de Esquerda, Fórum Socialista e Movimento Unidade Socialista de todo o país divulgaram manifesto durante o FSM anunciando que se colocam em "dissidência" dentro do PT. Como conseqüência, o grupo, que teve a adesão do ex-deputado constituinte Plínio de Arruda Sampaio, deixa de acatar a disciplina interna e em julho deve fazer um encontro nacional para decidir se permanece ou deixa o partido. Do lado dos que escolheram deixar já o PT, o professor de economia da Unicamp Plínio de Arruda Sampaio Jr., filho do ex-deputado constituinte, disse que a idéia é chegar a 400 ou 500 desfiliações em aproximadamente três semanas. Uma página será aberta nos próximos dias na internet, no endereço "www.cemporcentoluta.org.br" para divulgar o manifesto de ruptura e estimular novas desfiliações, explicou Sampaio Jr. Ele afirmou que o grupo pretende lutar pela "unidade das esquerdas" mas não deve adotar uma opção partidária a curto prazo, embora tenha proximidade com o recém-criado P-Sol. Membro da diretoria executiva nacional da CUT e um dos líderes do movimento pela desfiliação, Jorge Martins disse que nos últimos dois anos o grupo acreditava que podia forçar um "giro à esquerda" do governo Lula. "Mas perdemos todas as batalhas", afirmou. "A reforma da Previdência impôs mais sacrifícios aos trabalhadores, a Lei de Falências acabou com o risco do capital e o superávit primário retira a capacidade de investimento do governo", resume. Outras iniciativas, como a reforma trabalhista, são sinais "mais do que evidentes" que Lula aprofunda o modelo implementado pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, disse Martins. O Valor tentou falar sobre o assunto com o presidente nacional do PT, José Genoino, por intermédio de sua assessoria, mas não obteve retorno. (SB)