Título: Senador espera que governo Bush dê mais atenção para América Latina
Autor: De Davos, Suíça
Fonte: Valor Econômico, 31/01/2005, Internacional/especial, p. A9

John McCain, influente senador republicano dos EUA, acredita que o presidente Bush vai dar mais ênfase à relação com a América Latina em seu segundo mandato, particularmente com o Brasil, mas sinalizou que Washington não aceitará uma suposta ambição nuclear brasileira. "Toda nação tem que estar comprometida com a não-proliferação nuclear", disse ele, em entrevista ao Valor. "O Brasil não precisa ser uma potência nuclear, não é do interesse do Brasil, nem dos EUA, nem do mundo que isso ocorra". Para McCain, um dos principais membros do Comitê de Assuntos Militares do Senado americano, a questão ainda está sujeita a negociações e deve assegurar que as intenções brasileiras são pacíficas. Por sua vez, diplomatas do Brasil destacaram que a sociedade brasileira já tomou a decisão de não produzir armas nucleares, como está inscrito na própria Constituição do país. Eles acreditam que a recente fricção com Washington nesse terreno já está superada. McCain se diz convencido de que o presidente Bush vai dar mais atenção à América Latina e espera que, com o Brasil sobretudo, possa ocorrer uma cooperação especial em temas como mudanças climáticas. "É lamentável que o Iraque tenha desviado a atenção de outras questões importantes, incluindo o que se passa na Venezuela. Mas Condoleezza Rice (nova secretária de Estado americana) entende a importância do Brasil", disse o senador. Ele acrescentou que Washington quer trabalhar com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva o "o máximo possível". "Há sempre questões que causam fricções, mas que sempre podem ser superadas", acrescentou. Condoleezza Rice telefonou a Celso Amorim em Davos e ambos acertaram que vão se encontrar, em Brasília ou Washington. Moises Naim, editor da revista "Foreign Policy", de Washington, acha que o secretário-adjunto de Estado, Robert Zoellick, vai dar mais atenção à região, mas que isso não significa uma transformação da agenda. "Há enorme oportunidade de melhorar as relações entre Brasil e EUA. Em Washington, há muita preocupação sobre a desestabilização regional por parte de (Hugo) Chávez (presidente da Venezuela) e Lula poderia ter um um grande papel para conter isso". Em encontro em Davos, Zoellick pediu uma avaliação de Amorim sobre a região em geral, além de Venezuela, Colômbia e Haiti em particular. No caso do Haiti, onde estão tropas brasileiras, Amorim insistiu na importância da ajuda econômica, mas também em apoiar a administração haitiana "sem se intrometer" na soberania do pais. (A.M.)