Título: Costa Rica vota livre comércio com EUA
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 05/10/2007, Internacional, p. A13

domingo, os costa-riquenhos vão se defrontar com uma das escolhas políticas mais difíceis em muito tempo, quando participarão de um referendo para aprovar ou rejeitar a adesão do país ao Cafta, o acordo de livre comércio entre EUA, República Dominicana e cinco países centro-americanos. As pesquisas não apontam favoritismo e indicam empate técnico.

Tratados de livre comércio (TLCs) com os EUA costumam polarizar os latino-americanos numa velha fórmula: os que se dizem de direita defendem os acordos; os que se dizem de esquerda o repudiam. Isso inevitavelmente evoca outras divisões que transcendem o debate objetivo sobre o tratado em pauta.

E, no caso da Costa Rica, essa dificuldade é ainda mais acentuada pelos detalhes técnicos, já que cada país do Cafta negociou exceções específicas com os EUA. Por causa disso, a discussão passou no país a ser uma questão muito mais passional do que racional (leia texto abaixo).

É claro que há também argumentos coerentes dos dois lados. Vejamos os que são contrários à adesão, por exemplo. Eles mostram preocupação com a abertura do setor de telecomunicações, atualmente todo nas mãos do Estado, e argumentam que o país não tem um quadro regulatório robusto para lidar com isso.

De modo mais amplo, apontam para um fenômeno interessante: os investimentos externos diretos e as exportações estão crescendo, mesmo a Costa Rica sendo o único país da região a não ter ratificado ainda o TLC. Então, por que motivo deveriam os costa-riquenhos se preocupar em arriscar esse atual estado de coisas, que já está indo tão bem?

Por outro lado, os favoráveis ao TLC apontam grandes problemas no horizonte, caso o acordo não seja aprovado na votação.

O principal é que as exportações da Costa Rica para os EUA devem começar a perder as vantagens que têm com acordo de preferências tarifárias para os países do Caribe e da América Central, concedidas por Washington. Essas preferências começaram a caducar no ano que vem e, se a Costa Rica der as costas para o Cafta, dizem eles, os lobbies domésticos nos EUA e os outros países que aderiram ao acordo devem começar a trabalhar para que todas as vantagens concedidas no âmbito dessas preferências sejam eliminadas de vez - afinal, o Cafta teria vindo para substituir os acordos anteriores.

Se isso realmente ocorrer, as consequências então para as exportações do país podem ser simplesmente devastadoras.

Outra coisa que os defensores do Cafta lembram é que os outros países da região já embarcaram nesse trem. Ou seja, o acordo é hoje uma realidade. Dizer que ele será a solução para todos os problemas da Costa Rica pode ser ingênuo, mas ignorar o Cafta pode ser um erro ainda maior, argumentam.