Título: Tropa de Renan afasta Simon e Jarbas da CCJ do Senado
Autor: Ulhôa , Raquel
Fonte: Valor Econômico, 05/10/2007, Política, p. A12

Pedro Simon: "Dessa gente eu espero tudo. Para eles, vale tudo" Depois de 25 anos como integrante da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do senado, o senador Pedro Simon (PMDB-RS) foi afastado ontem do colegiado, juntamente com o também pemedebista histórico Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE). "Dessa gente eu espero tudo. Para eles, vale tudo", afirmou Simon, 77, acusando diretamente o presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), e o senador José Sarney (PMDB-AP) pelo que chamou de "grosseria".

"Eu achava que eles (o grupo de Renan) tinham um limite. Esse limite foi rompido", disse Jarbas. Ambos decidirão juntos, na terça-feira, que reação conjunta poderá adotar. A saída do PMDB está descartada. "Sair e deixar o PMDB com essa gente? O PMDB está se decompondo. Tenho que ficar para mostrar que o velho PMDB existe. Que o PMDB não é essa gente", afirmou Simon.

Cristovam Buarque (PDT-DF) chegou a propor renúncia coletiva das comissões em protesto. "Na semana passa deram um tapa na cara do Brasil. Hoje deram um golpe. Amanhã vão cuspir na gente", disse Cristovam. O tapa segundo ele, foi a indicação de Almeida Lima (PMDB-SE) - um dos mais agressivos defensores de Renan - para relatar dois processos contra o alagoano.

Jarbas e Simon serão substituídos pelo próprio Almeida Lima e Paulo Duque (PMDB-RJ), segundo suplente que assumiu o Senado na vaga do governador Sérgio Cabral. A destituição de Jarbas e Simon, assinada pelo líder do PMDB, Valdir Raupp (RO), foi lida nos últimos minutos da sessão plenária de ontem - toda ela dedicada a homenagear o deputado Ulysses Guimarães, ex-presidente do PMDB e da Câmara dos Deputados, morto há 15 anos.

O sempre discreto presidente da CCJ, Marco Maciel (DEM-PE), divulgou nota condenando a atitude. "Fiquei surpreendido com a decisão do líder de afastar os ilustres e operosos senadores Jarbas Vasconcelos e Pedro Simon da condição de membros titulares da CCJ. Minha estranheza é tanto maior quando se sabe que tal procedimento não está em harmonia com as tradições da Casa, caracterizadas pelo respeito às opiniões dos parlamentares", disse Maciel.

Na sessão em homenagem a Ulysses Guimarães - boa parte dela presidida por Renan-, Jarbas e Simon fizeram duros discursos condenando o alinhamento do PMDB ao governo Luiz Inácio Lula da Silva e referências críticas à situação do Senado depois que o presidente da Casa passou a ser alvo de acusações de quebra de decoro. Já foi absolvido no primeiro e responde a outros três.

Jarbas e Simon são dois dos maiores críticos à permanência de Renan. Em nota distribuída à imprensa, Raupp diz que o afastamento dos dois "obedeceu a uma decisão da maioria da bancada que integra a base do governo na Casa".

Afirma, ainda, que "ambos não acompanham as deliberações da maioria da bancada" e lembrou que na CCJ tramitam os principais projetos "de interesse público e que se relacionam com a governabilidade do país". Classificou a substituição de "ato de rotina e uma prerrogativa dos líderes partidários".

O afastamento de Jarbas e Simon da CCJ foi discutido pelos pemedebistas em jantar na casa de Raupp. Um dos argumentos para justificar a destituição é a preparação para a tramitação da proposta de emenda à Constituição que prorroga a Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF) até 2011. No Senado, diferentemente da Câmara, uma PEC passa apenas pela CCJ antes de ir a plenário.

Renan, entretanto, tem motivos mais fortes para querer afastar os dois da CCJ. Cabe à comissão examinar a admissibilidade das representações por quebra de decoro contra senadores antes do plenário. Seus aliados querem barrar no colegiado os processos pendentes contra ele.

No Conselho de Ética e Decoro Parlamentar, como a votação é aberta, a tarefa é mais complicada. Na votação da primeira representação, sobre uso de lobista da Mendes Júnior como intermediários de pagamentos pessoais, o conselho aprovou a cassação do mandato de Renan por 11 a 4. No plenário, em votação secreta, ele foi absolvido (40 contra a cassação, 35 a favor e seis abstenções). Ao deixar o Senado, à noite, Renan negou responsabilidade pelo afastamento de Simon e Jarbas. Disse tratar-se de ato do líder e uma "substituição normal".