Título: Demanda aquecida no Nordeste preocupa BC
Autor: Ribeiro , Alex
Fonte: Valor Econômico, 08/10/2007, Brasil, p. A4

Os programas assistenciais pagos pelo governo, como o Bolsa Família e os benefícios previdenciários dirigidas a idosos sem renda, ajudam a puxar o comércio no Norte e Nordeste, mostra um estudo do Departamento Econômico do Banco Central.

A autoridade monetária tem dedicado atenção especial às chamadas transferências de renda - entre as quais se incluem os programas assistenciais - por causa de seus impactos na demanda agregada. A primeira referência ao tema foi feita em março de 2006 e, de lá para cá, quando o BC passou a apontar riscos de superaquecimento da economia, tornou-se ainda mais importante desvendar os efeitos dos programas sociais.

No relatório trimestral de inflação de setembro, documento que faz um amplo diagnóstico da conjuntura econômica e das perspectivas para a inflação, o BC divulga estudo que chama a atenção para o fato de que, em algumas regiões do país, os benefícios assistenciais são bastante representativos, quando comparados com as vendas do comércio.

Também mostra que, justamente nessas regiões, as vendas do comércio crescem mais fortemente. Nos Estados de Pernambuco, Bahia e Ceará, os programas assistenciais têm uma alta correlação com as vendas de supermercados.

Em 2005, os programas representaram 37,2% das vendas do comércio no Norte e 40,5% no Nordeste. Os percentuais são superiores à média nacional, que é de 12,5%. A média é puxada para baixo pelas regiões Sul (programas sociais representam 6,2% das vendas), Sudeste (7,1%) e Centro-Oeste (10,3%).

"O BC apresenta algumas evidências de que não é só a baixa de juro que puxa a demanda agregada. Há também outros impulsos, como as transferências de renda", afirma o economista Caio Megale, da Mauá Investimento.

Os benefícios previdenciários assistenciais pagos a idosos e portadores de deficiência somaram R$ 12,960 bilhões no período de 12 meses encerrado em agosto. A despesa com o Bolsa Família foi de R$ 6,484 bilhões de janeiro a setembro deste ano. As transferências cresceram fortemente nos últimos anos, em virtude do reajuste do salário mínimo e da ampliação do número de pessoas atendidas pelo Bolsa Família e do aumento dos valores pagos aos beneficiários.

Pelos cálculos do Departamento Econômico do BC, os pagamentos assistenciais cresceram 37,5% acima da inflação em 2005, 30,5% em 2006 e 21% no primeiro semestre de 2007, quando comparado ao mesmo período do ano anterior.

As receitas do varejo cresceram mais rapidamente no Norte e Nordeste do que no resto do país. No Brasil como um todo, as vendas do comércio cresceram 22,3%, no período de dois anos e meio entre janeiro de 2005 e junho de 2007. No Nordeste, cresceram quase o dobro - 43,55% - e se expandiram com ainda mais força no Norte, com 47,02%.

Os técnicos do BC levaram o estudo um pouco mais a fundo, desdobrando os efeitos dos programas assistenciais no segmento de supermercados, englobando todas as vendas de alimentos, bebidas e fumo.

O estudo mostra, para alguns Estados, uma forte relação entre as vendas em supermercados e as transferências governamentais. No caso de Pernambuco, o índice de correlação é de 0,98. Nessa métrica, que vai de 0 a 1, quanto mais próximo de 1, mais forte é a relação entre as vendas de supermercado e o aumento dos benefícios assistenciais.

Na Bahia, a correlação é de 0,96 e, no Ceará, de 0,92. Os três Estados responderam por 57% dos pagamentos assistenciais do governo na região Nordeste no primeiro semestre deste ano.