Título: Produtor do Centro-Oeste defende piso para cotação
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 31/01/2005, Agronégocios, p. B10

Produtores do Centro-Oeste - principalmente do Mato Grosso e de Goiás - iniciaram um movimento para tentar "diluir" as perdas esperadas para a safra 2004/05 por conta da queda dos preços dos grãos, do aumento dos custos de produção e do recuo do dólar. Em Primavera do Leste (MT), produtores reunidos em assembléia do Sindicato dos Produtores Rurais, semana passada, decidiram não vender soja por menos do que R$ 33 por saca, alegando que um valor inferior não cobre os custos e afeta as margens. Segundo o presidente do sindicato, José Nardes, o custo estimado pela Esalq é de US$ 457/hectare no MT. Considerando um dólar de R$ 2,70, equivale a R$ 1.234. Assim, o custo por saca fica em R$ 24,68 (para um rendimento de 50 sacas/hectare), acima do preço entre R$ 22 a R$ 23 previsto para março e abril, diz. Contribuiu para a elevação dos custos, conforme Nardes, a alta de cerca de 50% dos fertilizantes e defensivos e os maiore gastos para combater a ferrugem da soja. A iniciativa dos produtores de Primavera ameaça se espalhar pelo Estado. A Federação de Agricultura do Mato Grosso - Famato - marcou para 4 de fevereiro uma reunião entre representantes do setor produtivo, indústrias, esmagadoras e fornecedores de insumos e equipamentos. O objetivo é discutir opções para "diluir o déficit operacional" do setor, diz Homero Pereira, presidente da Famato. Ele argumenta que se o produtor conseguir reter a soja, evitando vendê-la por menos do que R$ 33, terá "maior poder de barganha". Defende ainda que os produtores tentem ampliar o prazo de financiamento com fornecedores ou negociem pagamento parcial de débitos. Outra medida seria tentar prorrogar as dívidas relativas a investimentos. Em Goiás, o setor produtivo também quer definir um preço mínimo para a venda de grãos. Antônio Chavaglia, presidente da Comigo, diz que o assunto começou a ser debatido há dez dias pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB). "Estamos tentando encontrar uma maneira de reduzir o impacto negativo por conta da volatilidade do mercado internacional", afirmou. Carlo Lovatelli, presidente da Abiove (reúne esmagadoras), afirma que o movimento não preocupa porque "o mercado é maior" do que uma iniciativa isolada. Ele lembra ainda que as margens das empresas também estão sendo afetadas pela queda de preços. Mas fontes da indústria admitem que se a iniciativa funcionar pode gerar problemas de armazenagem e afetar a comercialização. (AAR e MS)