Título: Consumidor do Norte é novo alvo das cervejeiras
Autor: D'Ambrosio , Daniela
Fonte: Valor Econômico, 08/10/2007, Empresas, p. B5

A AmBev está muito perto de decidir em que cidade da região Norte irá construir sua nova fábrica. Faltam definir os incentivos fiscais para bater o martelo e encerrar a disputa entre os estados. Será a segunda cervejaria da AmBev no Norte, que já tem trinta fábricas no país e pelo menos quatro em cada uma das outras regiões brasileiras. O fato é que a toda-poderosa AmBev - e o mercado cervejeiro -está olhando atentamente para a região mais quente do país, que consome cerveja o ano inteiro. E, que apesar da menor renda, proporcionalmente, é a que mais cresce em vendas de cerveja.

Até o ano retrasado, a Nielsen sequer auditava esse mercado, mas a pressão das cervejarias foi tanta, que a empresa contratou uma equipe especial para fazer o levantamento. Mas o critério usado pela Nielsen segue padrões de mercado e está longe do desenho geográfico do mapa brasileiro.

A região "Norte" da Nielsen é formada por duas capitais autênticas - Belém e Manaus - além das nordestinas Teresina e São Luís. Ficam de fora Tocantins, Amapá, Roraima, Rondônia e Acre, onde o volume ainda é pequeno. A AmBev também faz uma leitura diferente da região. O seu "Norte" é formado por Pará, Maranhão, Amapá, Piauí, Amazonas e Ceará.

O fato é que as vendas de cerveja na região Norte "expandida" avança além de todas as outras porções do país. "Quem quiser crescer no Brasil precisa estar no Norte de maneira agressiva", diz o consultor de bebidas, Adalberto Viviani.

De janeiro a agosto deste ano, a região cresceu 18% em faturamento e 14% em volume de vendas, contra a média nacional de 11% em valor e 6,8% em volume. O vizinho Nordeste - segundo a base Nielsen - teve alta de 0,11% em volume, enquanto a Grande São Paulo, cresceu 11%. No ano passado, o crescimento também já tinha sido superior ao nacional - 15% de aumento nas vendas, contra 7% do Brasil.

Mais de uma vez, o presidente da AmBev, Luis Fernando Edmond, disse que a companhia precisa aumentar sua capacidade de produção e o Norte brasileiro é justamente a região com menor presença fabril. No Nordeste, por exemplo, a empresa tem sete fábricas e no Sudeste, oito.

Embora tenha três plantas em Manaus, apenas uma delas produz cervejas - as outras são de aroma, rolhas e uma terceira, na cidade de Maués, produz concentrado para refrigerantes. Atualmente, a região Norte é abastecida pelas fábricas do Nordeste e, eventualmente, Centro-Oeste. "O mercado do Norte está crescendo e o impacto do custo do frete é muito alto" disse Edmond na divulgação de resultados do segundo trimestre. "Precisamos de uma fábrica operando no verão de 2009", afirmou. Pela localidade das fábricas da AmBev na vizinhança, um dos candidatos mais fortes para receber a nova fábrica seria o Pará.

O grande entrave da região é a logística, um problema bastante sério, já que distribuição é a alma do negócio cervejeiro. O ciclo médio de entrega do produto na região é de três dias, contra apenas um ou até menos do que isso no restante do país. "A logística complexa ainda é o impedimento para que a região cresça de forma mais vigorosa", afirma Marcos Mesquita, presidente do Sindicato Nacional da Indústria da Cerveja (Sindicerv). "Pelo menos 15% do preço final da cerveja é distribuição e lá é certamente mais do que isso."

Por conta do custo do frete, muitas vezes, a cerveja lá acaba sendo mais cara. "Há um impacto maior na nossa margem do que no preço, mas às vezes não tem jeito e o produto acaba ficando entre 5% e 7% mais caro", afirma Marcel Sacco, diretor de marketing da Schincariol, dona de uma fábrica no Pará.

Além do barco - que depende da cheia dos rios - a qualidade das estradas é ruim. Um caminhão que perca a chegada de uma barca pode significar mais sete dias sem produto. Para complicar ainda mais essa equação, a maioria dos pontos-de venda são pequenos, com baixo capital de giro e pouco espaço para estoque, o que exige um reabastecimento mais freqüente. "Temos problemas muito diferentes aqui para administrar", afirma Alexandre da Silveira, diretor regional da AmBev, que coordena 80 mil pontos-de-venda.

Por outro lado, faz muito calor o ano inteiro e as empresas não enfrentam a forte sazonalidade que existe abaixo do Nordeste - o que é muito positivo para equilibrar melhor o fluxo de caixa das companhias.

Mas as peculiaridades não terminam aí. A disputa entre as marcas é diferente do resto do país, com a Schincariol brigando mais de perto com as marcas da AmBev, que está na liderança, segundo dados Nielsen. A Kaiser tem uma participação mais alta do que a média nacional em Teresina e Manaus, mas tem presença pequena nas demais capitais. As marcas Itaipava e Crystal, da Petrópolis, que já ultrapassaram a Femsa nacionalmente, não estão na região. A Cerpa, única marca local que concorre com os grandes, enfrenta problemas financeiros, segundo fontes do mercado, e só tem posição de destaque no seu estado de origem, o Pará.

A Femsa tem uma unidade em Manaus que abastece toda a região. Há dois anos, a Schincariol construiu uma fábrica em Benevides, no Pará, para atender exclusivamente a região. Em 2006, as regiões Norte e Nordeste responderam, juntas, por mais de 50% do faturamento da companhia. "A Nielsen nos dá uma participação de 11% na região, mas pelos nossos números internos, sabemos que é muito maior", diz Marcel, sem revelar, no entanto, a fatia que a empresa estima ter.

No Nordeste, onde possui três fábricas, a empresa é líder com 35,5% de participação. A Schin, que já patrocina o Galo da Madrugada, o Carnaval da Bahia, o Carnaval do Rio e a Fórmula I, fechou este ano, o patrocínio do Círio de Nazaré, em Belém, com as marcas de água e refrigerantes.