Título: Gerdau sela paz com sindicato nos EUA
Autor: Balthazar , Ricardo
Fonte: Valor Econômico, 08/10/2007, Empresas, p. B8

O grupo Gerdau liquidou na semana passada todas as pendências que tinha com o sindicato que representa os trabalhadores das suas usinas nos Estados Unidos e no Canadá, encerrando uma queda-de-braço que se prolongou por quase três anos e havia se transformado numa constante fonte de instabilidade para os seus negócios.

As divergências entre o sindicato e a subsidiária do grupo na América do Norte, a Gerdau Ameristeel, fizeram a empresa manter uma de suas principais usinas fechada por seis meses e insuflaram uma campanha agressiva que mobilizou sindicatos, políticos e autoridades no Brasil e em vários outros países onde o grupo siderúrgico atua.

Dos 9 mil funcionários que a Gerdau tem nos EUA e no Canadá, 3,5 mil são filiados aos Metalúrgicos Unidos (USW, na sigla em inglês). O sindicato representa os trabalhadores de 10 das 19 usinas que a Gerdau controla na região, onde o grupo faturou US$ 4,5 bilhões no ano passado. Cada usina tem um contrato coletivo diferente para regular salários, horas extras e benefícios.

Alguns contratos perderam a validade pouco depois que a Gerdau comprou as usinas, mas os desentendimentos da empresa com o sindicato complicaram tanto as negociações que só neste ano foi possível renová-los. Na semana passada, foram assinados os dois últimos contratos que estavam sendo discutidos.

Detalhes sobre os acordos e seu impacto sobre os custos da Gerdau não foram divulgados, mas a empresa afirma ter ficado satisfeita com o resultado das negociações. "Os novos contratos nos permitem continuar mantendo uma força de trabalho motivada e de alto nível", disse ao Valor o porta-voz da Gerdau Ameristeel, Steven Hendricks.

Os acordos com o sindicato diminuem a flexibilidade que a companhia tem para administrar seu pessoal e conter despesas com aposentadorias, planos de saúde e outros benefícios. O principal concorrente da Gerdau no mercado americano, a Nucor, não tem nenhum trabalhador sindicalizado e por isso seus custos são bem menores.

Em seu último relatório anual, a Gerdau Ameristeel previu que gastará nos próximos anos US$ 111 milhões com os benefícios que seus funcionários terão direito de receber durante a aposentadoria, quando a empresa continuará pagando seu plano de saúde. É o dobro do que a Nucor espera gastar com benefícios semelhantes, embora ela empregue muito mais gente.

Mas os contratos diminuem o risco de que novas disputas trabalhistas paralisem a companhia, e os últimos anos ensinaram à Gerdau que é mais fácil aprender a conviver com o sindicato do que tentar se livrar dele. "A empresa percebeu que não poderia simplesmente passar por cima da gente", disse ao Valor o diretor de negociações coletivas do USW, James Stewart, que coordenou a discussão dos novos contratos com a Gerdau.

O confronto entre a empresa e o sindicato atingiu um ponto crítico em maio de 2005, quando a Gerdau promoveu um locaute numa usina no Estado do Texas para forçar os trabalhadores a abrir mão dos seus benefícios. A produção foi suspensa e os operários, que não podiam ser simplesmente demitidos, foram mandados para casa e ficaram sem receber seus salários.

Após seis meses, a Gerdau chamou todos de volta ao trabalho e voltou a negociar. O acordo só foi concluído em março deste ano, mais de um ano depois. Ele permitiu à companhia tirar do balanço uma parte das suas despesas com o plano de saúde dos aposentados, transferindo-as para um fundo que receberá contribuições da empresa e será gerido pelo sindicato.

A retomada das negociações no Texas ajudou a desanuviar o ambiente. A Gerdau substituiu seus principais negociadores por executivos mais habilidosos. Em julho, num gesto que seria improvável poucos meses antes, eles foram até a sede do sindicato fazer as pazes com seu presidente, Leo Gerard, e definiram um cronograma para concluir as negociações mais rapidamente.

Em 2005, quando o conflito estava no auge, os metalúrgicos articularam uma campanha internacional para fazer pressão sobre a empresa e persuadi-la a voltar à mesa de negociações, fazendo alianças com outros sindicatos e políticos em vários países. Dirigentes do USW viajaram até Brasília para pedir que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva falasse com o empresário Jorge Gerdau, presidente do grupo.

A campanha criou constrangimentos para a empresa, mas o apelo a Lula não parece ter surtido efeito. "Ele me disse que passou a vida toda brigando com as multinacionais e que eu devia ser duro com eles também", contou Gerdau ao Valor, numa conversa em junho deste ano. Assinados os últimos contratos na semana passada, a empresa só precisará voltar a negociar com o sindicato em 2009.