Título: Petrobras negocia ativos na distribuição
Autor: Schüffner , Cláudia
Fonte: Valor Econômico, 08/10/2007, Empresas, p. B9

Petrobras já detém 47% de participação na distribuição de gás no mercado brasileiro. Mas a companhia está com um apetite para ampliar sua presença nesse setor. Em linha com essa estratégia, a estatal negocia com a espanhola Repsol, principal acionista da Gas Natural SDG (sediada em Barcelona, Espanha) uma troca de participações societárias envolvendo suas distribuidoras no Brasil - a CEG, do Rio de Janeiro, e a Gas Natural, que opera na região sul de São Paulo.

Mas o avanço da petrolífera brasileira não pára por aí. O Valor apurou que a Petrobras e a anglo-holandesa Shell chegaram a discutir a aquisição conjunta da gigante BG Group (antiga British Gas). O assunto foi discutido na Inglaterra com o presidente executivo da britânica, Frank Chapman, e com o holandês Jeroen van der Veer, presidente da Royal Dutch Shell.

A Petrobras estava de olho nos ativos de gás natural e gás natural liquefeito (GNL) da britânica, nas participação que ela tem na Comgás, empresa controlada pela BG e da qual a Shell também é detentora de 18% das ações. Mas o negócio, que envolveria uma soma bilionária, não prosperou.

Embora não admita abertamente, a Petrobras quer comprar a Comgás desde que a companhia foi privatizada pelo governo de São Paulo, em 1999. Se esse negócio fosse adiante, a Shell ficaria com os demais ativos, inclusive no Reino Unido.

Na semana passada, o valor de mercado da BG era de US$ 55,9 bilhões, e uma aquisição dessas exigiria o pagamento adicional de um prêmio de controle de pelo menos 20% a 30% sobre esse valor. É uma cifra elevada até para uma empresa com o cacife financeiro da Petrobras. Foi esse o argumento usado por executivos da estatal consultados pelo Valor, os quais negaram a negociação.

As conversações com os espanhóis abrem a possibilidade de a Petrobras ceder espaço societário nas distribuidoras do Espírito Santo, Rio Grande do Norte, Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul para a Gás Natural. Em troca, a brasileira passaria a dividir o controle da CEG, no Rio, e na distribuidora Gas Natural São Paulo. Na Ceg-Rio, também controlada pela Gas Natural, a estatal já detém 37,4%, mas quer dividir a gestão.

O que nova diretora de Gás e Energia da estatal, Maria das Graças Foster, deixou claro na sua primeira entrevista, na semana passada, na qual detalhou o plano de negócios da área de gás até 2012, é a intenção da Petrobras em aumentar sua participação nesse segmento, inclusive até com aquisições de reservas de gás. A executiva afirmou que a companhia, que já possui participações acionárias em 20 das 27 distribuidoras em operação no país, tem interesse em novas participações e está atenta a "pequenas e grandes oportunidades que surgirem".

Entre todas as companhias de distribuição do país, a Petrobras somente não tem participação nas três de São Paulo - Comgás, Gas Natural e Gás Brasiliano, esta última controlada pela italiana Eni Spa, na CEG e na Companhia de Gás do Amazonas (Cigás).

O setor teve uma importação movimentação em 2005, quando a japonesa Mitsui comprou por US$ 250 milhões a Gaspart, empresa de participações da falida Enron que era sócia da Petrobras na Bahiagás (na Bahia), Copergás (em Pernambuco), SCGás (Santa catarina), Compagás (Paraná), Algás (Alagoas, PBGás (Paraíba) e Sergás (Sergipe).

As boas perspectivas de crescimento desse setor explicam as movimentações societárias. Até agosto, as distribuidoras de gás do país consumiram, em média, 42 milhões de metros cúbicos de gás natural por dia, segundo dados da Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras de Gás Canalizado (Abegás). O volume total não inclui o gás consumido pela Petrobras em suas instalações - nas refinarias e outras unidades de produção e nem a reinjeção para produzir petróleo.

A oferta tem sido insuficiente e Mas o mercado está ávido por mais gás e aguarda aumento da oferta a partir de 2008, quando a Petrobras começar a importar os 20 milhões de metros cúbicos de Gás Natural Liqüefeito (GNL) que serão oferecidos para o mercado industrial e térmico.

Os maiores mercados de gás do país localizam-se no Rio e São Paulo, que juntos consomem mais da metade do gás ofertado. Sozinha, a Comgás respondeu pela média de 14,32 milhões de metros cúbicos ao dia entre janeiro e agosto deste ano, sendo 74% de origem boliviana. No mesmo período, o consumo da Gas Natural São Paulo foi de 1,32 milhão de metros cúbicos diários, em média. É mais que o dobro da Gas Brasiliano, controlada pela italiana Eni Spa, que consumiu 567 mil metros cúbicos.

O Rio tem o segundo maior mercado do país. Entre janeiro e agosto, a CEG consumiu 5,87 milhões de metros cúbicos por dia e a Ceg-Rio outros 4,43 milhões, somando 10,31 milhões de metros cúbicos.

As projeções da Petrobras para o mercado doméstico apontam crescimento da oferta de 9,8% ao ano até 2012, quando a companhia estima que o consumo nacional estará em 134 milhões de metros cúbicos diários. Até lá, a estatal prevê que o segmento industrial aumentará seu consumo de 24 milhões para 42 milhões de metros cúbicos. Somente para geração de energia elétrica, a estatal prevê aumentar a oferta de 6,1 milhões para 48 milhões de metros cúbicos até 2012.