Título: 12 bi é a captação do setor de fundos em janeiro
Autor: Catherine Vieira
Fonte: Valor Econômico, 31/01/2005, EU &, p. D1

Os fundos começaram 2005 com fôlego para ter um ano de ouro. Em apenas 24 dias, de acordo com os dados da Associação Nacional dos Bancos de Investimento (Anbid), o setor teve uma captação líquida de nada menos que R$ 12,2 bilhões, o equivalente ao total atraído em todo o ano de 2004. Metade deste volume está em fundos exclusivos, que não informam seus dados ao mercado e cujos números são captados apenas pelo consolidado da Anbid. Já a outra parte vem, principalmente de carteiras voltadas ao varejo. Os valores representam dinheiro novo ingressando no sistema e não são relativos à migração entre os tipos de investimento, uma vez que os Certificados de Depósitos Bancários (CDBs) também têm apresentado captação, de R$ 1,87 bilhão até o dia 20, segundo dados disponíveis no site do Banco Central. Os números do BC indicam também um saldo positivo para os depósitos na caderneta de poupança, de R$ 496 milhões.

A forte captação é considerada pelos gestores um bom sinal de que os investidores assimilaram bem a série de mudanças que vêm ocorrendo nos últimos meses e passaram a vigorar este ano, como a conta-investimento e as mudanças na tributação. Mas o alto volume que ingressou no setor também pode ser explicado por uma sazonalidade. "É um sinal positivo, sem dúvida, mas ainda é cedo para dizer que é uma tendência, é preciso esperar passar um pouco do efeito sazonal", diz Alexandre Zákia, diretor do Itaú. Janeiro é um mês em que executivos recebem bônus e as empresas aplicam os ganhos das vendas mais fortes do fim de ano. Além disso, é um período em que as administrações públicas recebem grandes volumes com o pagamento de impostos como IPVA e IPTU, que em alguns estados e municípios, pagos antecipadamente com desconto. Os especialistas dizem ainda que o fenômeno foi reforçado pela grande liquidez que algumas empresas de grande porte estão apresentando. O perfil detalhado das captações mostra que os fundos que mais atraíram recursos foram os DIs e os de curto prazo - que concentram os caixas das empresas e da administração pública -, com entrada de R$ 6,8 bilhões, até o dia 24, segundo a Anbid. Esses fundos também foram beneficiados pelas recentes altas nos juros e a expectativa de que novas elevações na taxa básica podem ainda ser promovidas pelo Comitê de Política Monetária (Copom). Apesar da ênfase nos fundos atrelados aos juros pós-fixados, praticamente todas as categorias apresentam saldo positivo no ano. Apenas as categorias dos cambiais, fundos de investimento no exterior (Fiex) e carteiras de aplicação do FGTS apresentam resgates. A segunda categoria a atrair mais recursos, segundo a Anbid, é a dos renda fixa, que captou R$ 4,2 bilhões, seguidos pelos multimercados, com R$ 965 milhões. Até os fundos de ações, que vinham perdendo recursos no ano passado, apresentam saldo positivo, de R$ 111 milhões. Se a captação continuar nesse ritmo, janeiro pode fechar como o segundo melhor mês da história do setor de fundos ou mesmo empatar com o atual recorde, que foi registrado em janeiro do ano passado, quando ingressaram R$ 15 bilhões. De acordo com dados do site Fortuna, entre os fundos que informam seus dados ao mercado, a instituição que mais captou recursos foi o Banco do Brasil, seguido por Santander, Caixa, Itaú e BankBoston. Entre as instituições independentes, a que se saiu melhor foi o Credit Suisse First Boston (CSFB). Segundo Nelson Rocha Augusto, presidente da BB DTVM e vice-presidente da Anbid, a captação vem surpreendendo até mesmo os mais otimistas. "Há muito tempo acreditamos no potencial dos fundos de longo prazo, mesmo antes da nova tributação", diz. "E estes produtos, apesar de oscilações eventuais, apresentam excelente resultado, atraindo clientes." Segundo Sinara Figueiredo, superintendente de produtos de investimento do BankBoston, a área de fundos também é prioridade no banco, que vem fazendo um trabalho muito grande para conscientizar o cliente das vantagens deste produto e da permanência no prazo longo. Segundo ela, a principal captação do banco é nos fundos DI e nos multimercados. Para Mauro Bergstein, diretor de gestão do Credit Suisse Asset Management, além da performance dos fundos da instituição, no início do ano, é comum a reavaliação de portfólios. "E neste ano, mais ainda, não só por causa das mudanças, mas também das notícias do cenário externo." Segundo Edvaldo Morata, diretor da Santander Banespa Asset Management, a captação da instituição foi fortemente concentrada no varejo. "Isso não quer dizer que o aplicador já esteja completamente confortável e sem dúvidas em relação às mudanças que estão ocorrendo, pois isso deverá levar pelo menos um semestre para ocorrer, mas a captação mostra que ele não está deixando de aplicar por conta dessas questões."