Título: A nova onda da renda fixa
Autor: Fariello , Danilo
Fonte: Valor Econômico, 05/10/2007, EU & Investimento, p. D1

Com a taxa de juros nos atuais 11,25% ao ano e caindo, cada parcela desse percentual se torna preciosa para o investidor. Essa idéia tem levado mais e mais cotistas a buscarem fundos de renda fixa com taxa de administração algumas frações de pontos percentuais mais baixas, por exemplo. Já os aplicadores mais conservadores descobriram as operações compromissadas como alternativa ao CDB. Nessas operações, o banco revende ao investidor um papel que tem em carteira, público ou privado, com o compromisso de recompra em um determinado prazo. A aplicação é operacionalmente bastante similar a um CDB, mas pode oferecer retorno ligeiramente maior. As compromissadas eram oferecidas, há alguns meses, apenas a fundos de investimento, de pensão, clientes private e empresas, mas chega agora ao varejo.

No Itaú, que oferece a alternativa para quem tem a partir de R$ 300, um investidor que conquistaria em um CDB taxa de 77,5% do Certificado de Depósito Interfinanceiro (CDI, referência das aplicações em renda fixa) conseguiria uma rentabilidade de 79,5% em uma compromissada.

Apesar da pequena diferença, a compromissada ganha adeptos. Em agosto do ano passado - quando a Selic estava em 14,75% ao ano - havia um saldo de R$ 98 bilhões em compromissadas no mercado. Em agosto deste ano o volume é mais do que o dobro, de R$ 198 bilhões, segundo dados do Banco Central - quase o valor de R$ 212 bilhões aplicado na caderneta. Os prazos das compromissadas também tendem a ser mais longos do que os CDBs - de até 20 anos -, por isso o ganho maior.

Atualmente, os bancos usam principalmente papéis de empresas ligadas ao grupo para garantir as compromissadas, em especial das companhias de leasing. Elas emitem debêntures longas para financiar suas operações, que consistem em comprar e depois alugar para terceiros carros, caminhões, equipamentos de informática e até imóveis, por prazos também longos.

Algumas dessas debêntures acabam sendo compradas pela tesouraria do próprio banco que, por sua vez, as repassa na forma de uma operação compromissada para o investidor. O aplicador, portanto, fica com o papel da leasing, mas conta com o compromisso do banco de recomprá-lo. O risco da operação é haver algum problema financeiro com o banco ou com a empresa de leasing.

Em julho, apenas o Grupo Itaú teve autorização para emitir R$ 10 bilhões pela BFB Leasing, valor que poderá ser usado em parte como lastro para as compromissadas. No ano, são mais de R$ 20 bilhões em operações de debêntures de empresas de leasing ligadas a bancos autorizadas pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e mais R$ 11,5 bilhões estão em análise. "O volume cresce porque hoje é um bom momento do mercado de capitais para emissão das debêntures, e há crescimento dos empréstimos e do leasing na outra ponta", diz Marcos Villanova, diretor de Produtos de Investimento do Bradesco, que oferece compromissadas a quem invista a partir de R$ 100 mil. "A tendência do mercado todo é popularizar o produto."

Com a queda persistente dos juros, os investidores estão ficando mais cautelosos com os seus investimentos em renda fixa, diz Arthur Riedel, superintendente de produtos de Tesouraria do Itaú. "A diferença de ganho entre a compromissada e o CDB, que sempre foi pequena, agora passa a ganhar importância." A liquidez, a incidência de IOF e de imposto de renda são idênticas nas duas aplicações.

Contudo, o rendimento extra em relação ao CDB tem seu equivalente em risco. A compromissada não conta com o amparo do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), que banca prejuízos de até R$ 60 mil ao investidor em caso de problemas financeiros na instituição. Portanto, o aplicador deverá estar atento que o risco da sua aplicação está ligado à saúde financeira da instituição onde aplica. Se ela quebrar, a aplicação vai por água abaixo.

É por não contribuir para o FGC que a compromissada consegue pagar mais. Os CDBs deixam uma parte do rendimento para bancar essa garantia. O percentual exato é de 0,015% do valor envolvido. Outro motivo para o ganho maior é que o banco não tem de recolher ao BC o depósito compulsório de 15% sobre os valores captados em CDBs. Isso faz com que o banco possa emprestar até 100% dos recursos obtidos com as compromissadas a taxas mais altas, no crédito ao consumidor, por exemplo. No entanto, há um pagamento extra de CPMF na compromissada, de 0,36% quando se transfere o papel da empresa ao banco.

O investimento em compromissadas carrega, porém, um desdobramento que é a superoferta de recursos para as leasings, além da capacidade de elas repassarem isso para os clientes. Isso pode provocar uma queda nos juros pagos nas debêntures e uma menor atratividade das operações. No entanto, os bancos poderão então usar debêntures de outras empresas, que paguem mais aos investidores, e não necessariamente as ligadas ao próprio grupos.