Título: DEM cada vez mais em pedaços
Autor: Torres, Izabelle
Fonte: Correio Braziliense, 19/01/2011, Política, p. 5

Nova crise do Democratas envolve acordos para a escolha do futuro presidente do partido e de quem vai liderar a legenda na Câmara Depois de eleger o menor número de deputados da sua história, o DEM enfrenta agora uma crise que dividiu ao meio um partido cujo discurso pós-eleição era o de se unir para tentar sobreviver. A primeira batalha a ser travada acontecerá no próximo dia 31, quando três candidatos se lançarão na briga pela liderança da legenda na Câmara. A sucessão caminhava com tranquilidade, tendo o nome do mineiro Marcos Montes como favorito, já que era apoiado pelo atual líder Paulo Bornhausen (SC). Seu único adversário deveria ser o sergipano Mendonça Prado, mas os nomes apresentados não agradaram o grupo do atual presidente do partido, Rodrigo Maia (RJ). Submerso no temor de ficar distante do poder, o grupo de Maia lançou ACM Neto (BA) na disputa. A entrada do baiano na briga pela liderança do partido tem causado um clima tenso entre seus membros, que se fragmentam em grupos distintos, intensificando divergências que ameaçam o futuro da legenda.

Os que apoiam as candidaturas de Marcos Montes e de Mendonça Prado alegam que havia um acordo interno para que a função de líder fosse exercida por um parlamentar que nunca tivesse ocupado o cargo. De acordo com essa tese, ACM Neto e seus apoiadores estariam descumprindo um trato antigo, visto que o parlamentar baiano comandou a liderança em 2008.

Outra crítica que recai sobre a candidatura de ACM Neto é o fato de que a decisão de lançá-lo é a maior prova de que o partido chegará rachado na convenção que vai escolher o próximo presidente da legenda. Isso porque o parlamentar apoia a candidatura de Agripino Maia (RN), enquanto o grupo de Bornhausen trabalha por uma segunda via e tenta convencer o pernambucano Marco Maciel a enfrentar a eleição. Maciel, no entanto, avisou que não pretende entrar no jogo se houver dois times.

Sem acordo Os políticos do DEM que trabalham por ACM Neto rebatem a tese de acordo pela alternância. Dizem que o consenso sobre a escolha do líder se restringiu a evitar a reeleição de um deputado na mesma legislatura. Nesse caso, o cargo ocupado pelo deputado baiano em 2008 não impediria sua eleição como líder neste ano.

Para essa ala do partido, o único acordo existente e reconhecido por todos era em torno da candidatura única de Agripino Maia para a presidência. Trato esse que o grupo encabeçado por Bornhausen estaria ignorando ao tentar viabilizar um nome para disputar o cargo com o potiguar.

O grupo ligado ao atual presidente Rodrigo Maia critica os colegas de partido que articulam uma segunda via em torno da eleição pelo comando da legenda. Dizem que a ala adversária está insistindo em um nome que represente oposição ao de Agripino, apesar de já ter fracassado na tentativa de lançar a senadora Katia Abreu (GO) e agora ter se deparado com a falta de interesse de Marco Maciel de entrar em um jogo dividido.

Os parlamentares que disputam o poder são os mesmos que pregam a união da legenda como a única forma de sobreviver e enfrentar a gigante base governista eleita em outubro do ano passado. Com 43 deputados, a bancada do DEM é bem menor do que os 65 eleitos em 2006 e que os 84 que conseguiram mandato em 2002, logo depois da fundação do partido.

DINHEIRO DE MALUF CONTINUA CONFISCADO A Justiça da Suíça decidiu manter confiscados cerca de US$ 13 milhões em contas bancárias no país ligadas à família do ex-prefeito Paulo Maluf. O congelamento já dura 10 anos, quando o Ministério Público do país informou ao Brasil sobre movimentações suspeitas feitas nas contas. Naquele ano, em torno de US$ 110 milhões foram transferidos para as Ilhas Jersey, onde a família do ex-prefeito também tem contas bancárias. O que sobrou na Suíça foi confiscado, garantindo a devolução do dinheiro aos cofres públicos brasileiros caso Paulo Maluf seja condenado. Até agora, no entanto, a Justiça brasileira não condenou o ex-prefeito em última instância. Por isso, o confisco foi mantido. A maioria do dinheiro na Suíça está em contas de uma empresa ligada a Lygia Maluf, filha do ex-prefeito.

Mabel pede pra pensar

Ivan Iunes

Último obstáculo entre Marco Maia (PT-RS) e a Presidência da Câmara dos Deputados, Sandro Mabel (PR-GO) já acena para colegas de partido com a possibilidade de deixar a disputa. O deputado federal não foi ao jantar promovido pelo presidente do PR, Valdemar da Costa Neto (SP), que serviu para anunciar o apoio da sigla ao petista. Isolado pelo próprio partido, ele pediu 10 dias para anunciar a sua decisão final. A eleição na Casa está marcada para 1º de fevereiro.

Depois de conseguir o apoio de dois candidatos avulsos, Aldo Rebelo (PCdoB-SP) e Júlio Delgado (PSB-MG), Maia conseguiu isolar Mabel dentro do próprio partido. Segundo cálculos de deputados da legenda, dos 44 parlamentares do PR, pelo menos 36 anunciaram apoio ao petista. ¿Todos nós já conversamos com o Sandro (Mabel) para que ele desista, mas é um direito dele concorrer¿, afirmou Anthony Garotinho (PR-RJ).

O presidente do PR, Valdemar da Costa Neto, e o deputado federal Luciano Castro (PR-RR) tiveram encontro fechado com Maia antes do jantar. Os dois entregaram ao candidato à Presidência da Câmara uma lista de reivindicações para oficializar o reforço ao petista. A principal delas é a confirmação de que o PT cederá ao PR a sexta escolha na Mesa Diretora.

A legenda quer emplacar Inocêncio de Oliveira (PR-PE) na segunda vice-presidência, o que equivale à Corregedoria da Casa. Mas como PP e DEM têm interesse no mesmo cargo, o mais provável é que os republicanos fiquem com a terceira secretaria. O órgão é responsável pela emissão de passagens aéreas e por julgar as justificativas de faltas dos deputados.

Queixas Aos parlamentares mais próximos, Mabel se queixa da pressão exercida pelo partido para que ele desista e ainda acha que foi prejudicado por uma decisão da Mesa Diretora, tomada no fim de 2010, que restringiu a campanha para a Presidência da Casa. De acordo com o ato, estão proibidos a fixação de cartazes, banners, balões e faixas e o uso de sistemas sonoros com amplificação de voz e de meios eletrônicos de imagem nos espaços internos e externos da Câmara.

Na prática, a medida reduz a campanha ao corpo a corpo e à divulgação de portais e de propostas por carta e vídeo. A medida teria sido aprovada para evitar a poluição visual na Câmara. ¿Acho que é no mínimo antidemocrática a medida¿, reclama Mabel.

Depois de receber o apoio do PR, Maia terá o apoio formal do PCdoB confirmado hoje. No início da tarde, o petista também terá nova rodada de negociações com o líder do PDT, Paulo Pereira da Silva (SP).