Título: Empresários querem acordo ambicioso com EUA
Autor: Leo , Sergio
Fonte: Valor Econômico, 09/10/2007, Brasil, p. A3

O Brasil tem de aproveitar a aproximação com o governo George W. Bush, nos Estados Unidos, e preparar terreno para um acordo comercial mais ambicioso com aquele país, acreditam alguns dos mais importantes empresários brasileiros, que participarão, nesta semana, da primeira reunião do Fórum de Altos Executivos Brasil-EUA, criado por Bush e pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O ministro do Desenvolvimento, Miguel Jorge, avisou aos empresários que a agenda levantada por eles deve orientar os esforços de aproximação comercial entre os dois países, nos próximos meses.

As opiniões dos empresários brasileiros e americanos e a pressão do próprio governo dos EUA indicam que o novo fórum empresarial fará forte lobby para a realização de um acordo para evitar bitributação nos negócios entre os dois países. O governo brasileiro quer criar projetos conjuntos, com apoio do setor privado, para evitar que o processo eleitoral nos EUA esfrie o esforço de aproximação.

Na semana passada, em encontro com Lula, os empresários insistiram na necessidade de buscar algum tipo de acordo de derrubada de barreiras comerciais com os EUA. "Não importa em que setor, o Brasil é mais competitivo que os EUA, se caírem as barreiras existentes", disse Jorge Gerdau Johannpeter, segundo um dos participantes do encontro. Lula sugeriu que o setor privado se concentre em metas "pragmáticas", sem muita oposição política, capazes de resultados concretos em prazo mais curto. O acordo sobre bitributação pode ser um desses objetivos, sugerem os empresários.

A reunião do fórum, que reúne dez altos executivos brasileiros e dez americanos, também é vista pelo governo Bush como uma oportunidade de fixar uma agenda de trabalho mais consistentes entre os dois países. Os americanos já têm um roteiro de trabalho esboçado, que inclui a negociação com o governo brasileiro para medidas capazes de reduzir a burocracia para criação de empresas no país e diminuir custos e tempo de embarque e desembarque de mercadorias nos portos brasileiros.

A reunião dos empresários será presidida pelo ministro Miguel Jorge e o secretário de Comércio dos EUA, Carlos Gutierrez, que tem status de ministro. Gutierrez deve insistir na reivindicação americana de um acordo de proteção de investimentos entre os dois países, tema polêmico, porque o modelo adotado pelos EUA em seus acordos na região prevê medidas proibidas pela Constituição brasileira, como a obrigatória indenização em dinheiro no caso de desapropriações na área rural (o Brasil paga com títulos da dívida agrária).

O fórum reúne os principais executivos de empresas como a Coteminas, Gerdau, Odebrecht e Embraer, pelo lado brasileiro, e Intel, Cargill, Alcoa, Coca-Cola e International Paper, pelos EUA. Os americanos já discutem informalmente com os brasileiros a agenda das sugestões conjuntas aos dois governos, na qual incluíram propostas para incentivo à educação e inclusão digital, troca de tecnologia e medidas de facilitação de comércio, com desburocratização.