Título: Oposição pressiona PT a se mobilizar contra Renan
Autor: Ulhôa , Raquel
Fonte: Valor Econômico, 09/10/2007, Política, p. A7

A denúncia de espionagem de senadores da oposição patrocinada pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), aliada à destituição de Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) e Pedro Simon (PMDB-RS) da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) pelo líder do partido, Valdir Raupp (RO), aumentaram o isolamento do alagoano e deram força à ação suprapartidária para afastá-lo do cargo.

A suspeita contra o ex-senador Francisco Escórcio, assessor de Renan, de que estaria investigando Marconi Perillo (PSDB-GO) e Demóstenes Torres (DEM-GO) deve resultar na quinta representação por quebra de decoro contra o presidente do Senado. A iniciativa deverá ser conjunta, de PSDB e DEM. "Se as suspeitas se confirmarem, estamos vivendo um estado policialesco no Senado", disse o líder do DEM, José Agripino (RN).

A estratégia é pressionar o PT a aderir de forma mais ostensiva à mobilização contra Renan. Como os senadores não acreditam em afastamento espontâneo, por meio de licença, a idéia é garantir os votos necessários à cassação do se mandato de Renan na votação das próximas representações. Há três em curso. No julgamento de uma anterior (uso de recursos de terceiros em pagamentos pessoais), Renan foi absolvido com a ajuda do PT.

"Se o PT não se juntar a esse movimento agora, será o fim da governabilidade no país. Se preferir não se juntar a nós, o PT é sócio proprietário da patifaria", afirmou o presidente do PSDB, Tasso Jereissati (CE). A mobilização começou a ser articulada ontem entre Tasso, Jarbas, Agripino e Aloizio Mercadante (PT-SP). "A crise decorre da permanência de Renan na presidência do Senado. A defesa do Senado exige seu afastamento", disse o petista.

Os senadores vão cobrar hoje do presidente do Conselho de Ética, Leomar Quintanilha (PMDB-TO), a indicação do relator da representação na qual Renan é acusado de quebra de decoro por usar intermediários ("laranjas") na aquisição de duas rádios e um jornal em Alagoas.

Para a oposição, dos três processos contra Renan, esse é o que tem mais potencial para comprometê-lo. A idéia é pressionar Quintanilha a cumprir o prazo de 30 dias para que os pareceres sejam apresentados. Há um processo aberto sobre suposta atuação de Renan para beneficiar a Schincariol. O relator é João Pedro (PT-AM). Em outra, na qual Renan é acusado de comandar esquema de desvio de recursos de ministérios do PMDB, o relator é Almeida Lima (PMDB-SE), o mais veemente defensor do presidente do Senado.

O movimento deve ganhar adesão de vários senadores do PMDB que rejeitam a decisão do líder do partido, respaldado por algum superior no partido, provavelmente o próprio Renan, de afastar Jarbas e Simon da CCJ, para substituí-los por Almeida Lima e Paulo Duque (RJ). Independentes, Jarbas e Simon defendem afastamento do pemedebista do cargo. "A destituição não exprime o pensamento da bancada, que não discutiu isso. A bancada tem de se reunir para tratar do assunto", afirmou Valter Pereira (MS).

Interessa ao presidente do Senado ter integrantes da CCJ de sua confiança porque pretende tentar barrar os próximos processos contra ele na comissão. Na avaliação de seus aliados, em um próximo julgamento no plenário Renan não conseguiria preservar o mandato, tamanho é o seu desgaste. Depois de votado no Conselho de Ética, o processo tem que ser submetido à CCJ para exame da constitucionalidade.

Renan não foi ontem ao Senado, mas enviou nota para ser lida em plenário, negando ter pedido para servidores do Senado investigar colegas. "Na medida em que a verdade vai destruindo as falsas imputações pretéritas buscam-se novas tramas para indispor-me com a Casa", disse.

A oposição também espera aprovar amanhã na CCJ urgência para votação no plenário do projeto de resolução que determina afastamento de membro da Mesa diretora ou presidente de comissões alvo de processo por quebra de decoro.

O líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), rebateu ontem as acusações de que teria usado "laranjas" para comprar veículos de comunicação em Roraima. Jucá disse que as acusações não têm procedência porque foram reveladas pelo deputado Márcio Junqueira (DEM-RR), seu inimigo político no Estado.

"As acusações vêm de um desqualificado que é meu adversário político, contra o qual movo vários processos. (A matéria da revista "Veja") é de irresponsabilidade porque a operação comercial é normal e a emissora tem mais dívidas do que vale", disse o senador. Segundo a reportagem, Jucá é acusado de comprar a TV Imperial e a Rádio Equatorial, em Roraima, que são controladas por Antonio Emílio Surita - cunhado do senador e apresentador do "Pânico na TV". Surita teria repassado a administração dos veículos ao advogado Alexandre Morris, administrador da TV Caburaí de Roraima - com a qual Jucá, também apontado como dono, nega ter ligação.

Junqueira argumenta que o senador teria comprado a rádio e a emissora de TV por R$ 600 mil. O deputado afirma, na revista, que Jucá não fez o negócio em seu nome porque a atual lei de telecomunicações impede que parlamentares controlem veículos de comunicação. (Com agências noticiosas)