Título: 3,5 milhões votam pela reestatização da Vale
Autor: Lyra , Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 09/10/2007, Política, p. A8

Representantes dos movimentos sociais apresentaram ontem o resultado do plebiscito popular, organizado junto às suas bases de apoio, mostrando que 3,5 milhões de pessoas são favoráveis à reestatização da Vale do Rio Doce. Responderam a perguntas 3,7 milhões de pessoas, e 94,5% recomendaram a reestatização. O levantamento, contudo, ainda não tem valor prático. Os organizadores afirmaram que a intenção era medir o interesse da sociedade em torno do assunto. Se quiserem de fato questionar politicamente a privatização, ocorrida em 1997, terão agora que recolher mais de um milhão de assinaturas para a realização de um plebiscito constitucional, repetindo a pergunta. Só então, poderão apresentar um projeto de lei ao Congresso questionando a venda da Vale.

Realizado entre os dias 1º e 9 de setembro, o plebiscito questionou ainda outros três pontos: 92,1% dos entrevistados acham que o governo não pode pagar juros em detrimento da melhoria das condições de vida da população; 93,7% acham que o capital privado não pode seguir explorando o setor elétrico; e 93,4% são contra a reforma da Previdência.

Esses outros pontos representaram o grande racha do movimento. A Central Única dos Trabalhadores (CUT) só fechou questão na pergunta ligada à privatização da Vale do Rio Doce. A justificativa do diretor da CUT, Júlio Turra, é que este ponto envolve realmente uma questão de soberania nacional. Pessoas ligadas à organização do movimento, contudo, acusam a CUT de não envolver-se nos demais questionamentos - sobretudo a reforma da Previdência - para não "constranger o ministro da Previdência e ex-presidente da Central, Luiz Marinho".

O dirigente do MST, Valdir Misnerovicz, afirmou que a privatização precisa ser revista porque foi ilegal e imoral. "A ilegalidade é patente nas várias ações questionando a privatização. E imoral porque a Vale é estratégica dentro da política de desenvolvimento do país e não pode ser comandada por integrantes do capital financeiro internacional".

Mas nenhum dos representantes dos movimentos sociais presentes à entrevista em que divulgaram os resultados da consulta soube dizer o que farão com esta iniciativa Do ponto de vista jurídico, pelo menos em tese, a anulação de um ato jurídico invalida todas as ações posteriores. Uma década após sua privatização, a Vale tornou-se a segunda maior siderúrgica do mundo. É controlada, como mostrou a edição do Valor de ontem, pela Valepar, composta pelo Previ (Fundo de Pensão do Banco do Brasil), pela Petrus (Fundo de pensão da Petrobras), a Bradespar (unindo Bradesco e BNDES) e a japonesa Mitsui.

"O nosso interesse era retomar o debate sobre a nacionalização da Vale. Claro que, se tivermos êxito, vamos apresentar um modelo de gestão daí por diante. Mas se nos perguntarem qual é esse modelo agora, temos que responder que não sabemos", admitiu Edson Carneiro, o Índio, da Intersindical. Ele citou que as experiências de reestatização ocorridas em outros países - como o gás da Bolívia -: acabaram respeitando características próprias. "Não pretendemos copiar nenhum modelo".

Índio, que faz parte do Sindicato dos Bancários, reconhece que a Previ é uma das maiores acionistas da Vale. Mas afirma ser contra "que super aposentadorias de marajás do BB prejudiquem o conjunto da sociedade brasileira". Sobre a venda de ações com recursos do FGTS para trabalhadores de diversas origens, Valdir respondeu. "Não perdemos um minuto sequer preocupados com a remuneração dos investidores da Vale", assegurou.