Título: Branco Peres investe em café no Japão e mira cana no Brasil
Autor: Scaramuzzo , Mônica
Fonte: Valor Econômico, 09/10/2007, Agronegócios, p. B12

O grupo paulista Branco Peres reforça suas apostas no mercado de café e de cana-de-açúcar. A empresa é hoje administrada pelos netos de seu fundador, que estão imprimindo sangue novo à gestão da companhia.

Contrariando o movimento de mercado, a Café do Centro, torrefadora controlada pelo grupo, está investindo em cafeterias fora do país. Até o fim deste ano, inaugura sua terceira loja no Japão e já faz planos para ampliar a rede de lojas para outros países da Ásia em 2008. Os investimentos no Japão são em sociedade com executivos locais.

A escolha do Japão foi uma decisão estratégica acertada. "Se vira moda no Japão, outros países da Ásia querem copiar", acredita Rafael Branco Peres, diretor-sócio da Café do Centro. As duas lojas do grupo ficam em Tóquio e a terceira vai ser inaugurada na mesma cidade.

No Brasil, o grupo quer ampliar sua presença em pontos-de-venda, mas não há planos para abrir cafeterias. "No país, iríamos concorrer com os nossos próprios clientes" diz Rafael Branco Peres, que ao lado de seu primo, Rodrigo Branco Peres, convenceu a família de que a Café do Centro seria um bom negócio.

Os dois adquiriram a torrefadora em 1995, com um "empurrãozinho do pai". Inaugurada há 91 anos, a Café do Centro é uma das mais antigas marcas de café do Brasil. "A empresa foi uma das primeiras a apostar na década de 90 em cafés especiais", conta Rodrigo Branco Peres, diretor-sócio da torrefadora.

Com uma fábrica em Adamantina (SP), com capacidade para processar 4,2 mil toneladas de grão por ano e também para industrialização de café solúvel, a Café do Centro está presente em cerca de 2 mil pontos-de-venda do país, principalmente em hotéis e restaurantes, além de supermercados de luxo na capital paulista. No Sul do país, fechou parceria para a distribuição de seu café na rede varejista Angeloni, de Santa Catarina. Um outra parceria fechada há dois anos com a Rei do Mate permitiu ao grupo ultrapassar as fronteiras do Sul e Sudeste do país.

Mas nem só de café vive a empresa. O grupo também tem planos para crescer no segmento de açúcar e álcool. Com uma usina em Adamantina, o grupo planeja sua segunda unidade para os próximos cinco anos.

João Paulo Branco Peres, diretor de açúcar e álcool do grupo, diz que a família estuda construir sua segunda usina fora do Estado de São Paulo, "provavelmente em Goiás". Os estudos indicam uma usina de 3 milhões de toneladas de cana, em um aporte estimado em US$ 200 milhões.

Na contramão do setor sucroalcooleiro, o grupo não quer se associar a investidores. Pelo menos, por enquanto. "Já recebemos proposta pela nossa usina. Mas a família não quer se desfazer do negócio", diz João Paulo Branco Peres. A atual unidade do grupo deverá receber investimentos de R$ 40 milhões a R$ 50 milhões para ampliar a capacidade de moagem, dos atuais 1,1 milhão de toneladas em 2007/08 para 1,5 milhão em 2009, podendo chegar a 2 milhões de toneladas.

Com faturamento da ordem de R$ 300 milhões, a cana representa 40% do total da receita do grupo. Outros 20% referem-se às exportações de café verde. O Café do Centro, considerado a menina dos olhos do grupo, representa 10%. A produção de laranja fica com uma fatia de 30% dos negócios do grupo, que fornece laranja para a Cutrale.

Com forte tradição agrícola, a família deu início aos seus negócios há 50 anos. Deolindo Branco Peres, fundador do grupo, começou como negociante de café. O fundador do grupo passou os negócios para seus filhos, que repassaram a responsabilidade para a terceira geração da família. "Meu pai continua bem atuante, mas não fica mais no dia-a-dia", diz João Paulo Branco Peres.

Apesar do sangue novo na administração da empresa, o grupo ainda não aderiu à onda de IPOs (Oferta Pública de Ações) no mercado nacional. "Não temos esse projeto no curto prazo. Não é porque todos estão fazendo, que vamos junto", afirma João Paulo.